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Flamengo v Atletico Mineiro - Final: Copa Do Brasil 2024Getty Images Sport

Luxa, Vini Jr. e Gabigol: no futebol brasileiro, a mistura de pai durão com quartel militar nunca sai de moda

“Vini provoca a perseguição” e “Fala de Gabigol [após a final da Copa do Brasil] foi desnecessária”. Se você é uma pessoa cronicamente online, há de ter cruzado, nos últimos dias, com clipes de Vanderlei Luxemburgo entrando de sola em dois dos temas mais polêmicos dos últimos tempos. Além de fornecer matéria-prima para várias “Choquei” da bola, as falas de um dos maiores técnicos da nossa história ajudam a entender como uma mistura de pai durão com quartel militar, com ênfase em disciplina e hierarquia, ainda rege algumas das cabeças mais importantes do futebol brasileiro.

Antes de mais nada, vamos separar o joio do trigo. Sou luxemburguista convertido, comungo de várias das avaliações dele sobre o futebol atual e o acho um personagem dos melhores. Isso não muda quem ele é. Luxemburgo é um produto do meio que ele vive, cresceu sobrevivendo e cultivou uma imagem de malandro mas, uma vez que foi ocupar cargo de comando, exerceu sua liderança com imposição de disciplina.

Luxa toma vinho com jogador, gosta de samba e flexiona as regras quando o pedido é feito diretamente a ele, mas não admite insubordinação e é capaz de rebater o presidente do Real Madrid quando questionado em público. Todas essas histórias, contadas com graça, mas à exaustão, estão à disposição de quem quiser curtir três horas dele no Charla ou uma hora e meia de Benja Me Mucho, pra ficar nos dois podcasts em que ele deu as caras nos últimos dias. A disciplina até pode ser negociada, mas a autoridade dele nunca.

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  • Gabigol, jogador do Flamengo, 2024Getty Images

    O jogador dos sonhos: missão impossível?

    É daí que vêm os comentários que viralizaram. Luxa entende que Vinicius cruza uma linha do que é aceitável em termos de postura em campo. Gabigol também faz algo além do que lhe cabe quando rouba a atenção de um título do clube para mandar seus recados. Ambos, no subtexto, deveriam responder no campo. O que eles jogam é mais importante do que eles falam ou fazem.

    Esse é o sonho: um jogador absolutamente capaz, que siga as regras, leve a carreira a sério, não se envolva em nenhum tipo de polêmicas, se cuide fora de campo e transforme isso em longevidade e títulos. A história mostra quase o oposto, e boa parte dos grandes jogadores brasileiros escorregou em algum dos quesitos - senão todos.

    Embora cultive alguma dessas figuras, o futebol brasileiro sempre teve enorme dificuldade de lidar com grandes personalidades em campo. E a definição é propositalmente ampla: jogos mentais que passam do limite, posicionamentos políticos, conflitos extra-campo, vida social agitada, traços de arrogância… Qualquer coisa que fuja do script incomoda.

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  • Vanderlei Luxemburgo, Marcelinho CariocaDaniel Augusto Jr.

    O Paizão

    O treinador, historicamente, está lá para conter. Como um pai durão, ele corrige quando necessário e impõe limites do que é aceitável. Também é capaz de dar carinho, reconhecer o talento e até se misturar a ele em momentos de celebração ou relaxamento. Mas nunca, jamais, questione a autoridade, porque ele não vai hesitar em te punir. Não porque ele goste disso, mas porque é assim que ele entende que você pode aprender.

    O Brasil ama Romário, mas a mesma personalidade que fez ele ser amado pelo povo fez ele perder duas Copas em entreveres com treinadores. Telê, outro gigante brasileiro à beira do gramado, não hesitou em barrar Leandro e Renato Gaúcho por uma gandaia durante um longo período de concentração. O próprio Luxemburgo coleciona problemas do tipo, sempre exigindo que qualquer um, mesmo as maiores estrelas, sigam as regras estabelecidas por ele.

    É uma mistura de família com quartel, o que faz muito sentido visto que boa parte dessas figuras cresceu e se desenvolveu na ditadura militar. Não tenho a pretensão de entrar na filosofia ou na sociologia da coisa, mas não é de hoje que se discute outro tipo de liderança por aí.

  • Vinicius Real Madrid 2024Getty

    Jogo não se faz só no campo

    Não é fácil, e talvez seja especialmente difícil dentro do esporte, mas dá pra ser mais horizontal, lidar melhor com conflitos e entender que o jogo não se faz só no campo. Faz parte da beleza o trash talk de Michael Jordan e Larry Bird ou a arrogância confiante de Cristiano Ronaldo e Maradona.

    Até porque, convenhamos, não é que Luxemburgo seja um personagem desprovido de vaidade.

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