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Endrick e a viagem no tempo que criou o meme do Bobby Charlton: o que há de bom e ruim nas falas do atacante do Real Madrid

Parte de ser um bom jogador de futebol é saber ditar o ritmo do jogo: aceleração, pausa, e por aí vai. Ou seja, é preciso saber transitar bem pelo tempo. Mas Endrick ultrapassou todos os limites ao adentrar em outra esfera do conceito temporal. Você já deve ter visto algum dos muitos memes já disponíveis. E se não tiver visto, é só conferir os comentários nos posts de Instagram do novo jogador do Real Madrid. Rende boas risadas. Queira ou não, ele acabou gerando uma grande piada.

Perguntado sobre quais eram seus jogadores de futebol preferidos, Endrick chocou o mundo ao dizer Bobby Charlton. Aconteceu mais de uma vez. E, assim, não é que o inglês não tenha sido um grande craque – é praticamente o maior nome da história do Manchester United e seleção inglesa. Mas parou de jogar em 1975, quando Endrick nem sonhava em nascer: a joia revelada pelo Palmeiras veio ao mundo apenas em 2006 – 31 anos depois.

As declarações de Endrick viraram piada na internet, com usuários criando memes em que as respostas do atacante são as mais nostálgicas e exageradas possíveis. O assunto também pautou gente conhecida. O ex-jogador e atual apresentador Neto, o Craque Neto, ironizou a situação e foi no cerne de toda a questão: “não sabe nem quem é Bobby, nem Charlton, você acha que é marca de cigarro. Quer fazer média?”, bradou no programa Os Donos da Bola, da Band.

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  • Endrick Real Madrid 2024Getty Images

    Polêmica com Neymar e o problema real

    Em entrevista recente ao jornal L’Equipe, Endrick também disse que seu nome quase foi Di Stefano em homenagem ao maior jogador do Real Madrid em todos os tempos – que brilhou especialmente nas décadas de 1950 e 1960. E citou o húngaro Ferenc Puskas, outro ícone daquela época e de seu atual clube, como um de seus jogadores favoritos (Vinícius Júnior, Jude Bellingham e, claro, Bobby Charlton foram os outros craques citados) em conversa com o canal Delantero09.

    Ao ser perguntado se preferia Jude Bellingham ou Neymar, Endrick optou pelo jovem inglês. Nessa aí ninguém poderia lhe acusar de saudosismo, correto? A resposta, aliás, motivou ironias do próprio Neymar, de Thiago Silva e Raphinha nas redes sociais.

    Ou seja, é uma questão que já começa até a fugir da esfera dos memes para entrar quase na porta do vestiário. Mas o grande problema não é se Endrick realmente acha Bellingham melhor que Neymar, ou se realmente é fã de Bobby Charlton ou Puskas. O problema é que as falas soam MUITO (em letras capitais mesmo) forçadas.

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  • Bobby CharltonGetty

    Pode ser fã de Bobby Charlton, ok?

    Parece que Endrick pinça estes nomes como estratégia de marketing, algo pensado para, de alguma forma, lhe trazer algo de positivo e diferente em sua chegada ao futebol europeu. Não soar verdadeiro, e sim oportunista, é a grande canelada nesta jogada toda. Imagine que ao invés de apenas citar Di Stefano, Bobby Charlton e Ferenc Puskas o jovem atacante, da era dos smartphones e redes sociais, recheasse suas falas com um conteúdo sincero, que explicasse este gosto tão peculiar para um esportista da sua idade?

    “Olha, apesar de não ter vivido naquela época, li sobre a história e aprendi a ser muito fã do Bobby Charlton. Não só foi o grande craque da seleção inglesa campeã do mundo, do Manchester United, mas é um exemplo de superação. Ele ganhou todos os títulos que disputou depois de ser um dos sobreviventes de um dos maiores desastres aéreos da história do futebol. Exemplos de superação são atemporais, craques também”.

    Endrick não disse isso, mas seria bem legal se tivesse falado algo minimamente parecido, né? É possível admirar um jogador que você não viu jogar, e quem nega isso ou defende o contrário está errado. Ídolos são construídos com habilidades que se desenvolvem e evoluem com o tempo, claro, mas ídolos são construídos através de histórias. E a história de Bobby Charlton, por exemplo, é das mais bonitas do futebol. Está aí para ser lida em livros ou vista em documentários. Inspira. Mas será que Endrick realmente a conhece?

  • Pelé Vavá Santos PalmeirasDivulgação/Palmeiras

    Nostalgia só vale na Europa?

    Existe um ponto que levanta uma enorme desconfiança sobre o amor de Endrick pelo futebol antigo: o fato dele ser brasileiro e não citar jogadores brasileiros. A lista de craques que poderiam ser lembrados pelo jovem é quase infinita: Pelé, Garrincha, Zagallo, Pepe, Jairzinho, Tostão, Rivellino... (Isso para ficarmos apenas nos jogadores de ataque, campeões do mundo entre 1958, 1962 e 1970).

    Difícil imaginar que, sendo criado no Brasil, e não em Manchester, Endrick tenha ouvido falar mais de Bobby Charlton do que de Pelé ou Garrincha. E olha que este nem é dos assuntos preferidos do entretenimento esportivo, porque não engaja e não costuma entrar nos picos de audiência. Nos tempos de Palmeiras, Ademir da Guia, o maior ídolo da história alviverde, um grande craque dos anos 1970, falava mais de Endrick do que Endrick falava de Ademir. Também não consta registros dele falando sobre Vavá, Leivinha, Julinho Botelho ou Djalma Santos.

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  • Endrick Real Madrid 2024Getty

    Memes e o saldo da brincadeira

    Em 2008, enquanto os veteranos campeões do mundo de 1958 eram homenageados, a maior parte dos jogadores do Brasil daquele ano não conseguia citar mais que dois nomes daquela seleção campeã na Copa do Mundo da Suécia ao serem perguntados sobre um dos maiores times da história do futebol. Uma pena, algo triste e que demonstrou desdém por quem jamais deveria ser esquecido.

    A parte ruim na aventura nostálgica de Endrick é não soar verdadeiro – e o que não parece ser sincero não costuma ter vida longa. A parte boa, além das boas risadas causada pelos memes, é ver nomes que não deveriam estar esquecidos – e estavam – voltando, de uma forma ou outra, à pauta.

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