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Como a Espanha foi de campeã da Copa do Mundo até perder o pódio nas Olimpíadas de Paris

Quando Emma Hayes se despediu como técnica do Chelsea em maio, após ter guiado o time a seu quinto título consecutivo da Women's Super League, ela brincou ao prever que chegaria à final das Olimpíadas algumas semanas depois, em seu primeiro grande torneio no comando da seleção feminina dos Estados Unidos. No entanto, o que sua bola de cristal não revelou foi o adversário que estaria em seu caminho.

“Vejo vocês em algum momento, talvez na final olímpica pelo ouro. Tenho que vencer as espanholas em algum momento”, disse ela na sala de imprensa de Old Trafford, ao se despedir da mídia inglesa, referindo-se ao fato de que o campeão espanhol, Barcelona, havia destruído o sonho europeu de seu Chelsea mais de uma vez.

Mas quando Hayes entrar no Parque dos Príncipes, neste sábado (10), para a disputa da medalha de ouro, ela não terá essa pequena chance de vingança, pois não será a Espanha que enfrentará os EUA. Não, La Roja, em vez disso, não conseguiu nem mesmo a medalha de bronze, depois de cair para o Brasil na semifinal e perder para a Alemanha na disputa pelo terceiro lugar.

Como campeã mundial, como uma equipe que reforçou isso vencendo a Nations League em fevereiro, e contando com talentos como Alexia Putellas e Aitana Bonmatí – vencedoras das últimas três Bolas de Ouro – a Espanha era a grande favorita para conquistar o ouro olímpico. O que deu errado?

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  • Montse Tome Spain Women 2024Getty Images

    Imperfeito

    Embora a Espanha tenha chegado às Olimpíadas como a grande favorita ao ouro, é preciso dizer que isso não se deu por ser um time perfeito. É uma equipe notável, claro, que conquistou a Copa do Mundo há menos de 12 meses, mas havia sinais de que poderia ser derrotada.

    Defensivamente, La Roja mostrou fragilidade sob o comando de Montse Tomé, a ex-assistente que assumiu como treinadora em setembro. Apesar de ter perdido apenas duas e vencido as outras 12 das 14 partidas sob o comando de Tomé antes das Olimpíadas, três dessas vitórias exigiram viradas dramáticas após um trabalho defensivo fraco que deixou a Espanha em posições difíceis.

    Certamente havia áreas de fraqueza que os olheiros adversários poderiam explorar, e havia evidências de como derrotar a campeã mundial – fornecidas pela Itália em dezembro e, mais recentemente, pela República Tcheca no mês passado.

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  • Adriana Brazil Women 2024Getty Images

    Tomando notas

    Claramente, tanto a Colômbia quanto o Brasil perceberam essas fragilidades, pois ambos as expuseram na última semana – a primeira ao deixar a Espanha à beira da eliminação nas quartas de final e o segundo ao derrotá-la na disputa pela vaga na final olímpica.

    Assim como a estrela colombiana Mayra Ramirez descobriu, esta é uma defesa que comete erros, o que levou o Brasil a ser agraciado com oportunidades, também, com o placar final de 4 a 2 sendo até favorável a La Roja. De fato, a seleção brasileira poderia ter marcado cinco ou seis gols com as chances que teve. Talvez até mais.

    Essas oportunidades não foram apenas entregues à equipe sul-americana. A Espanha tem sido particularmente vulnerável nas laterais durante a gestão de Tomé, algo que a treinadora não conseguiu resolver. Foi aí que o Brasil realmente atacou a campeã mundial na grande vitória de terça-feira, como evidenciado especialmente pelo segundo e terceiro gols.

    Se uma equipe tem pontas habilidosas, dispostas a avançar e explorar os espaços, a Espanha tem um problema. Tanto a Colômbia quanto o Brasil conseguiram.

  • Jenni Hermoso Spain Women 2024Getty Images

    Nenhum 'Plano B'

    Mas esta é a campeã mundial, certo? Se sofrer um ou dois gols, certamente ainda tem talento para reagir e vencer. Bonmatí e Putellas estão entre as oito jogadoras desta seleção espanhola que acabaram de conquistar uma quádrupla coroa com o Barcelona, enquanto estrelas que representam grandes clubes como Arsenal, Real Madrid e Manchester City também fazem parte do elenco.

    No entanto, neste torneio, a Espanha tem consistentemente lutado para superar equipes que se fecham na defesa. Contra a Colômbia, conseguiu empatar muito tarde, revertendo um placar de 2 a 0 para 2 a 2, com os gols sul-americanos saindo aos 79 e 96 minutos. Mas as coisas foram diferentes contra o Brasil, que, ao contrário de sua rival sul-americana, manteve em campo jogadoras capazes de atuar como válvulas de escape no contra-ataque e dar um alívio à defesa.

    É nesses momentos que surge a dúvida: qual é o plano B da Espanha? Ao contrário do Barcelona, que tantas de suas jogadoras representam, e ao contrário da seleção masculina, ela nem sempre conta com jogadoras de lado de campo que quebram padrões, como uma Caroline Graham Hansen ou um Lamine Yamal. Não busca um passe mais direto para mudar a dinâmica, porque essa opção raramente está disponível.

    Em vez disso, trata-se de paciência e posse de bola, esperando que se abra uma brecha que raramente aparece. É por isso que, por muito tempo, o único perigo real que a Espanha conseguiu causar ao Brasil veio de chutes de longa distância, três dos quais foram bem defendidos por uma excelente Lorena no gol adversário.

  • Salma Paralluelo Spain Women 2024Getty Images

    Paralluelo neutralizada

    Dito isso, a Espanha possui opções mais diretas para atuar nas laterais que podem oferecer uma dimensão diferente, se o plano de jogo permitir – seja com Lucía García, Athenea del Castillo ou Salma Paralluelo, que passou a maior parte do torneio jogando como centroavante. Infelizmente, apesar de ter chegado às Olimpíadas após uma temporada de 34 gols pelo Barcelona, ela teve dificuldades constantes para causar impacto nessa posição.

    Isso, porém, não foi uma grande surpresa. Nos grandes jogos, onde os adversários tentam marcá-la de perto, a jovem de 20 anos não conseguiu realmente brilhar quando começou como centroavante. Foi o caso em várias partidas da fase de grupos e, anteriormente, na final da Liga dos Campeões pelo Barcelona há poucos meses. O elemento surpreendente foi que Tomé insistiu em mantê-la nessa função.

    Na Copa do Mundo do ano passado, Paralluelo ganhou destaque devido à ameaça que oferecia com sua velocidade e objetividade pelas laterais, às vezes como titular, mas principalmente como uma substituta. Isso não significa que ela deva ser limitada a um papel no banco de reservas ou que não possa se adaptar – ela não marcou 34 gols pelo Barcelona no último ano por acaso – mas sugere que Tomé poderia ter explorado melhor o talento da atacante na França, especialmente para oferecer algo diferente à equipe.

  • Alexia Putellas Spain Women 2024Getty Images

    O papel "inexplicável" de Putellas

    Essa não é a única questão a ser levantada sobre a treinadora após a derrota para o Brasil. Há também a falta de melhorias na defesa, o que certamente não foi ajudado pela decisão de utilizar uma terceira dupla de zagueiras diferente no torneio. O fato de que a defesa aos 52 minutos era diferente em três das quatro posições em relação à que começou o jogo diz tudo – e pouco ajudou na confusão que surgiu com muita frequência na linha de defesa.

    Há o "Plano B" e se ele realmente existe, há as oportunidades – ou a falta delas – dadas a certas jogadoras em Paris 2024 e, certamente, o aspecto mais controverso da derrota para o Brasil, é como ela utilizou Putellas, vencedora de duas Bolas de Ouro, nas fases eliminatórias.

    Quando a Colômbia vencia por 2 a 0 nas quartas de final, Tomé optou por tirar a estrela do Barcelona, uma das melhores jogadoras da Espanha no torneio. Dado que a equipe precisava de dois gols, essa decisão certamente causou estranheza. No entanto, La Roja conseguiu encontrar uma forma de superar a situação e, de repente, estava se aproximando da semifinal com Putellas bem descansada, tendo evitado a prorrogação naquele jogo.

    Porém, ela se viu no banco contra o Brasil. Essa surpresa se transformou em choque quando Tomé esperou até o minuto 77, com a Espanha já perdendo por 3 a 0, para colocá-la em campo. No pouco tempo que teve em campo, Putellas foi, de longe, a melhor jogadora do time, acertando o travessão, forçando uma defesa espetacular de Lorena momentos depois, dando a assistência para o primeiro gol da Espanha ao cobrar o escanteio e cabeceando para Paralluelo marcar o segundo.

    "Eu acho que, internamente, estávamos bem," disse Tomé aos repórteres após a partida, ao ser questionada sobre uma decisão que foi descrita como "inexplicável" na imprensa espanhola. "Alexia, claro, contribui e tem contribuído para o time. Em outros dias, foi a vez de outras jogadoras. Nem todas podem entrar."

  • Mapi Leon Spain Women 2022Getty

    Não com força total

    E enquanto perguntas sobre o futuro de Tomé certamente serão levantadas, dado esses exemplos, os efeitos persistentes dos problemas que atormentaram a Espanha antes da Copa do Mundo do ano passado também permanecem. Menos de 12 meses antes daquele torneio, 15 jogadoras se tornaram indisponíveis para seleção, exigindo melhorias dentro da federação. Antes da Copa, algumas dessas estrelas voltaram, embora muitos nomes de destaque – incluindo o trio do Barcelona Patri Guijarro, Mapi León e Claudia Pina – tenham permanecido afastados.

    Guijarro retornou à equipe pouco antes das Olimpíadas, gerando euforia entre os fãs de La Roja, pois isso permitiria a Tomé explorar o trio de meio-campo, também composto por Bonmatí e Putellas, que ajudou o Barça a se tornar o melhor da Europa. No entanto, sua reintegração ao time foi em curto prazo e, dadas as diferenças nos estilos de jogo do clube e da seleção, ela não pôde ser tão impactante quanto se esperava.

    Na mesma linha, tem sido difícil assistir à Espanha nas últimas duas semanas e não pensar em quanto a equipe seria reforçada pela presença de León, a melhor zagueira do mundo. No entanto, ela ainda não se dispôs a voltar a ser convocada.

  • Spain Brazil Women 2024Getty Images

    Oportunidade perdida

    Essa derrota na semifinal não significa que a Espanha de repente se tornou uma equipe ruim. É a campeã mundial, impressionou ao vencer a Nations League. Também vale notar que nenhuma equipe conseguiu vencer a Copa do Mundo e as Olimpíadas consecutivamente, e a derrota de La Roja na semifinal apenas continua essa tendência.

    No entanto, isso deve servir como um alerta para a Espanha, para Tomé e para a federação. Os últimos 12 meses foram incríveis para essa equipe e, ainda assim, há questões que precisam ser resolvidas, problemas que a Espanha superou apesar de tudo. Se quiser vencer o Campeonato Europeu no próximo verão, essas questões precisam ser abordadas.

    É impossível não sentir que esta foi uma oportunidade perdida. A Espanha chegou às Olimpíadas como a equipe mais forte entre as 12 participantes, com um elenco super talentoso, incluindo Bonmatí no auge de sua forma e jogadoras como Jenni Hermoso, Irene Paredes e Putellas que, com mais de 30 anos, provavelmente não estarão em melhor forma quando os próximos Jogos Olímpicos chegarem em quatro anos.

    Dado o incrível talento de suas equipes juvenis, poucos apostariam contra La Roja conquistando o ouro olímpico no futuro. O presente, contudo, passou longe disso.