Chega de confusão: Inter Miami precisa aproveitar Lionel Messi melhor para não fracassar de novo

Apesar da energia positiva de Messi, é preciso admitir que ele talvez pudesse ter feito mais.

Durante a série contra o Atlanta, Messi esteve quieto em grande parte do tempo – uma tendência que se repetiu nas últimas partidas eliminatórias. Embora tenha empatado no jogo 3 com um raro gol de cabeça, suas oportunidades foram escassas. Com Atlanta pressionando intensamente, Messi foi forçado a recuar, recebendo a bola longe do gol e tendo poucas chances reais de finalizar.

Quando se aproximava da área, era imediatamente sufocado. Seus chutes de falta acertavam a barreira, e dribles promissores eram interrompidos por faltas estratégicas ou desarmes precisos. A mágica habitual estava ausente; nada de gol nos acréscimos ou assistências espetaculares. Atlanta tinha um plano sólido, o executou com precisão e limitou Messi de forma eficaz.

Acostumados com milagres, somos facilmente levados à decepção quando ele não os realiza.

No geral, essa derrota não afeta a narrativa de carreira de Messi. O argentino poderia ter se aposentado após a Copa do Mundo de 2022 sem deixar ressentimentos, afinal, ele já havia "completado" o futebol. Com o troféu mundial, não restaram conquistas ou aclamações necessárias para consolidar seu legado. Poucos se importaram quando ele deixou o PSG sem uma Champions League, e Miami, em comparação, tem ainda menos peso.

Por outro lado, essa situação pode ser vista como um ponto negativo. A MLS deveria ser seu domínio, e com 26 contribuições para gols em 19 jogos da temporada regular, de certa forma, era. Messi não está aqui apenas para ganhar, mas também para expandir o jogo. No entanto, o peso implícito de seu histórico vitorioso sugere que ele deveria estar levantando a MLS Cup anualmente.

Expectativas não são novidade – e Messi nem sempre as atendeu em seu auge –, mas, em cinco anos, ninguém vai lembrar se ele venceu ou não a MLS Cup em 2024. É mais provável que esse detalhe vire apenas uma curiosidade de trivia.

Para o Inter Miami, essa derrota é um tanto embaraçosa. É difícil enquadrá-la de outra forma que não como uma grande zebra contra o melhor time da MLS. Montada pelo co-proprietário e presidente David Beckham e pela diretoria, a equipe atendeu a todas as expectativas na temporada regular, garantindo o primeiro lugar no Leste, o Supporter's Shield e o título de time mais bem-sucedido estatisticamente na temporada regular.

Sim, o Atlanta executou um plano de jogo eficaz, dificultando a vida dos Herons. No entanto, se Miami tivesse sido melhor gerido ao longo da série, maximizando o potencial de suas estrelas, essa disputa provavelmente não teria sido tão equilibrada.

No entanto, pouco disso está diretamente relacionado ao desempenho dos 11 jogadores em campo. O Inter Miami, na MLS, é muito mais uma marca, assim como o Al Nassr no Campeonato Saudita. Pergunte a qualquer pessoa fora da esfera da MLS, e é provável que conheçam os Herons apenas como "o time de Messi".

Reconheceriam os uniformes rosa, saberiam que Beckham é o dono e que Luis Suárez se juntou a Messi nessa jornada em South Beach. No entanto, o desempenho em campo provavelmente passa despercebido fora desse círculo, o que, embora não console os jogadores, fãs ou a própria liga, mostra que a relevância da equipe na mídia é muito maior que os resultados.

A equipe do Inter Miami pode precisar fazer algumas reflexões. O elenco foi montado de forma um tanto desequilibrada, com um ataque forte, mas carente dos jogadores inteligentes e atléticos necessários para ter sucesso na MLS. Messi não é o culpado – ele é um jogador designado e, por isso, pode ser pago o que o clube quiser. O mesmo vale para Sergio Busquets, que também pode receber o que Miami achar justo dentro das regulamentações da liga.

Financeiramente, nem Jordi Alba nem Suárez são responsáveis pela montagem do elenco. Ambos têm contratos acessíveis e aceitaram cortes salariais significativos em relação ao que poderiam ganhar em outros clubes. No entanto, a formação do time envolve mais do que apenas o salário de seus jogadores – há efeitos colaterais, com estruturas salariais que precisam ser bem planejadas.

Com salários tão altos, Suárez, Alba, Busquets e Messi praticamente precisam ser titulares. Assim como as melhores equipes de outros esportes americanos, Miami precisa ser mais astuto na forma como gasta seu dinheiro. Em termos práticos, a equipe precisa de um lateral direito, um volante e um zagueiro. Eles receberão uma ajuda com a saída de Diego Gomez para o Brighton em janeiro.

No entanto, há questões a serem resolvidas em outras áreas. Suárez tem contrato até o final da temporada, e embora haja rumores de que ele queira continuar, Miami pode precisar de um novo atacante caso ele decida se aposentar. A eficácia de Drake Callender no gol, bem como o uso curioso de Julian Gressel, também precisam ser analisados. Miami optou por um caminho caro, mas talvez agora seja hora de ser mais estratégico em suas escolhas.

E agora? O Inter Miami tem algumas reflexões a fazer se quiser conquistar a MLS Cup no próximo ano. A derrota para o Atlanta será dolorosa e revelou que esta liga é muito mais competitiva e dinâmica do que eles imaginavam. Há risco e entretenimento para os torcedores, mas também falibilidade, até para os maiores nomes.

Do ponto de vista esportivo, isso só pode ser positivo para o futebol nos Estados Unidos. Quer um produto mais atrativo? Prove que o melhor time pode ser derrotado de forma convincente por um time de meio de tabela. Isso soa como o Fulham vencendo o Manchester City no Etihad. No Reino Unido, e talvez na Europa, isso seria motivo de celebração.

A diferença aqui, porém, é que o Manchester City tem toda uma temporada para ajustar sua equipe, enquanto Miami tem apenas três meses, com incertezas no elenco e a dor de assistir a outro time levantar o troféu.

Claro, ao vencer o Supporters' Shield e com os EUA sediando o Mundial de Clubes em 2025, o Inter Miami já garantiu sua vaga no torneio do próximo verão, conforme anunciado pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, no mês passado. Portanto, perder na primeira rodada dos playoffs para um time da repescagem não afetará essa classificação.

Mas se Beckham e sua equipe realmente entendem de futebol – e presumivelmente sabem o que estão fazendo – esses próximos meses serão cruciais para ajustes e reestruturações. Os grandes nomes provavelmente não sairão. Eles são essenciais para o crescimento da liga. Mesmo a perda de Suárez pode ter grandes implicações.

O desafio agora é pegar um time que já foi campeão e ajustá-lo para os playoffs. É preciso confiar em jogadores coadjuvantes, encontrar valor onde outros não veem e reestruturar. O tempo de Messi é limitado. Miami precisa aproveitar ao máximo enquanto ele ainda está por lá.