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GFX Botafogo de 1999 ate 2024GOAL

Botafogo viveu o inferno e purgatório entre suas últimas grandes finais: por que Libertadores 2024 inicia uma nova era?

O aspecto psicológico do jogo tem ganhado cada vez mais espaço dentro do noticiário esportivo, embora sempre abordado como parte mais periférica do negócio. Aqui no Brasil, contudo, ganhou ares de protagonismo absoluto (e às vezes exagerado) em meio a tropeços do Botafogo – seja na histórica derrocada no Brasileirão de 2023 ou na sequência de três empates, antes da vitória sobre o Palmeiras, no campeonato de 2024.

A psiqué do botafoguense é algo que sempre encantou fãs de futebol. Com uma reta final de disputa de título brasileiro e decisão inédita de Libertadores, a ansiedade não poderia ser maior entre os torcedores do clube da Estrela Solitária. Afinal de contas, misturava a expectativa habitual de momentos tão decisivos com o fim de uma longa e angustiante caminhada no deserto de quase 30 anos sem um título que não tenha sido estadual.

A resposta foi gigante. Em Buenos Aires, o Botafogo viu Gregore ser expulso com 30 segundos de jogo e mesmo assim foi capaz de abrir vantagem de dois gols antes do intervalo. O Galo descontou, mas o Glorioso manteve a mentalidade intacta, segurou a vantagem e ainda fez o terceiro para cravar o 3 a 1 e a sua primeira Libertadores.

Antes de viver tudo isso, não era apenas a ansiedade de sair da fila de grandes conquistas após 29 anos (desde o título brasileiro de 1995) que mexia com os botafoguenses. Era a falta de experiência de encontrar-se em uma situação assim, de estar prestes a disputar uma grande final como a da Libertadores. O Botafogo é um dos gigantes do futebol brasileiro e mundial, mas neste quase primeiro quarto de século XXI talvez a maior prova de sua grandeza tenha sido, ao invés de títulos nacionais ou internacionais, ter conseguido manter-se vivo, com torcedores ativos no Brasil inteiro, enquanto a instituição sofria um longo derretimento que só terminaria, em 2022, com a sua transformação em SAF.

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  • A última final antes da Libertadores 2024

    Desconsiderando o Campeonato Brasileiro de pontos corridos, a última final disputada pelo Botafogo que não tenha sido estadual (Carioca) ou regional (Rio-São Paulo) havia sido há longínquos 25 anos: em 1999, a decisão de Copa do Brasil perdida para o Juventude na última vez em que o Maracanã recebeu público superior a 100 mil pessoas. Faz muito tempo. Bebeto, o principal nome daquele time, ainda era jogador. Quem viveu aquilo enquanto criança, hoje já é adulto; quem era adulto, hoje talvez seja até vovô ou vovó. Como reagir aos sentimentos atuais sendo quem você é hoje e tendo passado tudo o que passou nessas décadas? E quem nunca havia vivido coisa parecida?

    Até alcançar a decisão da Libertadores de 2024, o Botafogo não havia chegado a nenhuma grande final neste século. Flamengo, Fluminense, Vasco, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional, Cruzeiro, Atlético-MG, Athletico-PR, Coritiba, Sport, Ponte Preta, Vitória, Fortaleza... todos estes clubes, por exemplo, disputaram ao menos uma ou várias finais de Copa do Brasil ou Libertadores ou Copa Sul-Americana desde 2001.

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  • Brasileirao Series A: Botafogo v Sport Recife Play Behind Closed Doors Amidst the Coronavirus (COVID - 19) PandemicGetty Images Sport

    O inferno

    Não apenas não chegou em finais durante tanto tempo, o Botafogo teve times sofríveis e campanhas marcadas por muitos traumas. Uma coisa completa a outra. A fraqueza institucional em que se encontrava foi traduzida em três rebaixamentos à Série B do Brasileirão (2002, 2014, 2020), ainda que os alvinegros sempre tenham subido logo de primeira – mesmo quando poucos até acreditariam que isso seria possível.

  • Brasileirao Series A: Botafogo v Sport Recife Play Behind Closed Doors Amidst the Coronavirus (COVID - 19) PandemicGetty Images Sport

    O purgatório

    As demonstrações de força vinham sempre embebidas em um contexto de resistência, seja da torcida ou de algum time que, sabe-se lá como, conseguia superar falta de pagamentos e de estrutura para ao menos dar algum tipo de ilusão aos torcedores botafoguenses. A figura de um Rodrigo Pimpão, incansável em vontade e entrega mas, óbvio, longe de ser um craque, simboliza muito bem um determinado período.

    Um título carioca importante aqui, como os de 2010-2013-2018, ou uma campanha de superação contra as expectativas ali - vide um quinto lugar no Brasileirão de 2016 e a chegada às quartas na Libertadores de 2017; a presença de um ídolo abnegado e de seleção brasileira como Jefferson, ou um carismático Loco Abreu ou até mesmo ter um Seedorf aleatoriamente jogando muita bola em um curto período de tempo... Foram coisas como essas que alimentaram a fome botafoguense em um purgatório que não parecia ter data para acabar.

  • Botafogo Palmeiras 2024Vitor Silva/Botafogo

    Enfim, o paraíso

    Mas começou a acabar ali em meados de 2022, quando John Textor comprou a SAF alvinegra. O planejamento inicial era de começar a sonhar com títulos apenas a partir de cinco anos, mas em 2023 o Botafogo já foi postulante ao título brasileiro e, agora em 2024, seguiu como uma potência esportiva a ser respeitada por quem avalia processos de futebol. É campeão da Libertadores, expurgando todos os tipos de traumas e estigmas.

    O projeto da SAF tem dado muito certo: dívidas históricas sendo pagas, investimentos em estrutura e em jogadores sendo feitos e a instituição Botafogo começando a recuperar a força que havia perdido – e que muitos já consideravam ser irrecuperável.

    Quando disputou a final da Copa do Brasil em 1999, contra o Juventude, o Botafogo obviamente foi o grande favorito. Um empate sem gols no Maracanã, após um controverso 2 a 1 para os gaúchos na ida, representou o fim de uma década feliz para os alvinegros (com títulos estaduais, regionais, nacionais e internacionais) e o início de décadas de inferno e purgatório no século XXI.

    Por que acreditar que 2024 seria diferente? Porque o Botafogo hoje tem bom time, bom elenco, bom treinador e vem crescendo de forma estruturada e organizada. Mas, acima de tudo, porque mesmo em meio aos seus piores momentos o torcedor botafoguense, lá no fundo de sua alma, nunca deixou de acreditar: a diferença é que agora havia motivos reais para isso. A Libertadores de 2024 é do Fogão. E disputar grandes finais deve ser cada vez mais comum, como deve ser para clubes como o Botafogo.

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