Livre do PSG, Kylian Mbappé precisa liderar uma nova hegemonia da França

"Eu ganhei a Copa do Mundo," ele disse à CNN. "Eu ganhei a Liga das Nações. (A Euro) é o único grande torneio que me falta com a seleção. É também a minha primeira competição como capitão, então é muito importante para mim. Eu realmente quero isso. (É) outra oportunidade de escrever a história do meu país."

Mas para Mbappé é também uma chance de deixar definitivamente para trás um período doloroso do seu passado. Mudar-se para Madri e vencer a Euro no mesmo período não é apenas uma questão de felicidade; seria também uma questão de vingança.

"Estou em um estado de espírito vingativo," ele admitiu antes da estreia da França. "Como jogador, ainda tenho muito a provar na Euro."

Mbappé está certo também. Enquanto já está bem encaminhado para quebrar todos os recordes imagináveis de gols na Copa do Mundo, sua primeira participação em Eurocopas foi um pesadelo.

De fato, foi tão ruim que um Mbappé desiludido chegou até a considerar deixar a seleção.

Como campeã mundial, a França entrou na Euro 2020 como favorita absoluta, e Mbappé era visto como a estrela do espetáculo. No entanto, ele não marcou nenhum gol em quatro partidas. O pior ainda estava por vir: o camisa 10 desperdiçou a cobrança decisiva na derrota por pênaltis nas oitavas de final contra a Suíça em Bucareste.

Seguiu-se uma enxurrada de críticas - algumas delas motivadas por racismo. No entanto, a grande maioria estava relacionada à suposta arrogância de Mbappé.

A sensação era de que o atacante que repetiu o feito de Pelé, ao marcar em uma final de Copa do Mundo ainda adolescente, havia crescido além das expectativas; que sua presença na seleção tinha se tornado mais um obstáculo do que uma ajuda.

"A mensagem que eu recebia era que meu ego foi o que nos fez perder," ele afirmou, "que eu queria ocupar muito espaço, e que sem mim, talvez tivéssemos vencido. Eu nunca quis ser um problema e o mais importante é a seleção francesa, então se a seleção francesa estiver mais feliz sem mim, eu irei embora."

Presidente da Federação Francesa, Noël Le Graët não tinha a intenção de permitir que Mbappé deixasse a seleção. Ele reconheceu que mais poderia ter sido feito para proteger o atacante dos abusos que ele sofreu após a eliminação na Euro, e convenceu Mbappé a continuar.

"Você sabe como é," Le Graët disse ao Le Journal du Dimanche. "Ele é um vencedor, estava muito frustrado, como todos nós, com a eliminação. Mas ele é um cara legal, muito mais um jogador de equipe do que as pessoas pensam."

Mas o comportamento petulante de Mbappé no PSG nos últimos anos só reforçou a suspeita de que ele ainda tem muito a amadurecer, o que torna a Euro tão importante para como é visto pelo público.

A decisão de Didier Deschamps de escolher Mbappé, ao invés de Antoine Griezmann, para ficar com a braçadeira de capitão após a aposentadoria de Hugo Lloris foi motivo de muito debate na França, mas o treinador insiste que o atacante é "um líder fantástico". A resposta será dada com o tempo.

A França se classificou para a Euro de forma impressionante, vencendo a Holanda dentro e fora de casa, com Mbappé brilhando em ambas as vitórias. No entanto, os preparativos não foram ideais. Eles tiveram um desempenho bastante fraco nos amistosos pré-torneio, perdendo em casa para a Alemanha em março e empatando em 0 a 0 com o Canadá em seu último jogo de preparação.

Além de já ter perdido Lucas Hernández por lesão, há também dúvidas sobre a forma física de meio-campistas como Adrien Rabiot e Aurélien Tchouaméni, além de Mbappé, cujos problemas físicos na reta final de temporada pelo PSG não foram, nem de longe, tão preocupantes quanto a lesão no nariz sofrida na estreia da Euro, na vitória por 1 a 0 sobre a Áustria.

Agora é esperar para ver em quais condições Mbappé disputará (ou não) a Euro. Se conseguir jogar bola, a obrigação é levar a França longe na competição.