A DÉCADA PERDIDA
DO SÃO PAULO

DEZ ANOS DO FIM DA SOBERANIA

Em 19 de junho de 2009, uma era chegou ao fim no Morumbi. A diretoria tricolor decidiu demitir Muricy Ramalho por conta da queda para o Cruzeiro nas quartas de final da Copa Libertadores (o quarto fracasso consecutivo do treinador no torneio).

O técnico assumiu o cargo no início de 2006 para manter no topo a equipe que havia conquistado o Paulista, a Libertadores e o Mundial de Clubes no ano anterior e correspondeu com o tricampeonato do Brasileirão.

O São Paulo apostou na força de sua organização e de seu elenco para seguir vencedor mesmo com a saída de Muricy, mas o resultado foi uma década de eliminações, derrotas em clássicos e apenas um título - a Copa Sul-Americana de 2012.

PERSONAGENS DA DÉCADA

 
 
 

FRASES SOBERANAS


  • "A torcida paga ingresso para ver o time vencer. Quem quiser ver espetáculo que vá ao Teatro Municipal."

  • "O São Paulo, se bobear, vira o Bayern de Munique do Brasil. Ganha três campeonatos, perde um... O risco é ele virar o Lyon do Brasil, que ganhou sete e perdeu um."

  • "O campeão voltou"

  • "Qual vai ser o estádio de São Paulo para o Mundial? Se faz o estádio em Itaquera, como faz para chegar lá? A [chanceler alemã] Angela Merkel vai ter de sair de lá em um carro de bombeiro."

FUTEBOL PERDIDO

Enquanto reinava, o São Paulo tinha como linha formar elencos de boa qualidade com pouco investimento. Atletas em fim de contrato (Mineiro, Josué, Danilo) e reforços até então pouco conhecidos (Miranda, Borges) fizeram a diferença. Nestes dez anos, o modelo nunca foi repetido.

O comando do futebol perdeu a mão e passou a errar como não fazia, entrando em um ciclo ininterrupto de montagem e desmanche de elencos. Enquanto isso, jogadores são alçados a categorias de ídolos para serem descartados em seguida - casos de Rivaldo, Maicon (o "God of Zaga") e Álvaro Pereira.

E a troca constante de treinadores mostra a falta de uma ideia clara sobre o que fazer com o time. Após o fim do ciclo de Muricy Ramalho em 2009, passaram pelo comando do time 19 diferentes profissionais, entre eles o próprio Muricy em seu retorno. A falta de conquistas é consequência do caos.

SAIA E GANHE UM TÍTULO

Virou sina para o torcedor do São Paulo ver ex-jogadores conquistando taças assim que deixam o Morumbi. De pratas da casa a renegados, o padrão existe:



  • Arouca (Santos, Palmeiras)

    Paulista 2010, 2011, 2012
    Copa do Brasil 2010, 2015
    Copa Libertadores 2011
    Recopa 2012
    Brasileirão 2016



  • Casemiro (Real Madrid)

    UCL 2013–14, 2015–16, 2016–17, 2017–18
    Mundial de Clubes 2016, 2017, 2018
    La Liga 2016–17
    Copa do Rei 2013–14
    Supercopa da UEFA 2016, 2017



  • Lucas Pratto (River Plate)

    Supercopa Argentina 2017
    Copa Libertadores 2018
    Recopa 2019



  • Maicon (Grêmio)

    Copa do Brasil 2016
    Copa Libertadores 2017
    Recopa 2018
    Gauchão 2018, 2019

AS TUAS GLÓRIAS VÊM DO PASSADO?

A aposta em ídolos de outros tempos virou padrão no São Paulo, mas com resultados pouco efetivos. Isto valeu para jogadores e também treinadores.

  • Cicinho: O último lateral direito a ter mais de uma temporada relevante pelo São Paulo. Cicinho foi vendido ao Real Madrid depois do Mundial de 2005 e, após carreira irregular na Europa, retornou ao Morumbi em 2010, mas já não era nem sombra do camisa 2 de outrora.
  • Lugano: Símbolo de raça e queridinho do torcedor, Lugano voltou em 2016 e participou de poucas partidas como titular, seguindo no clube após a aposentadoria para assumir o cargo de superintendente de relações institucionais.
  • Muricy Ramalho: O treinador que garantiu a soberania retornou em momentos menos brilhantes. Muricy salvou o time do rebaixamento em 2013 e, no ano seguinte, fez a melhor campanha no Brasileiro desde os títulos, um vice. Em 2015, deixou o clube ainda em abril pela saúde debilitada, que o faria se aposentar em 2016.
  • Próximos: O sebastianimo tricolor segue forte, e a torcida deseja mais retornos. Jonathan Calleri e Miranda são os sonhos do momento. Melhor jogador da "década perdida", Lucas Moura também atiça os pensamentos tricolores.

VENDENDO BEM

O lado mais positivo do São Paulo na década pós-soberania é o mercado. Poucos sabem vender como o clube do Morumbi, e isto colaborou para que os anos não fossem ainda mais duros. Confira as principais vendas:

2010 Hernanes -> Lazio (R$ 31 milhões)
2012 Lucas Moura -> PSG (R$ 108,3 milhões)
2013 Casemiro -> Real Madrid (R$ 17 milhões)
2015 Gabriel Boschilia -> Monaco (R$ 24,3 milhões)
2015 Souza -> Fenerbahçe (R$ 27,7 milhões)
2016 Ganso -> Sevilla (R$ 34,4 milhões)
2017 David Neres -> Ajax (R$ 50,7 milhões)
2017 Thiago Mendes -> Lille (R$ 27,1 milhões)
2017 Luiz Araújo -> Lille (R$ 38 milhões)
2018 Eder Militão -> Porto (R$ 17,5 milhões)
2018 Lucas Pratto -> River Plate (R$ 44,5 milhões)
2018 Cueva -> Krasnodar (R$ 36 milhões)
2018 Rodrigo Caio -> Flamengo (R$ 22,2 milhões)

E O FUTURO?

Há luz no fim do túnel para o São Paulo? O clube tem uma vantagem: suas contas estão organizadas. Impulsionado pelas vendas bem sucedidas, o Tricolor apresentou balanço financeiro em abril que indica R$ 7 milhões de superávit em 2018.

O São Paulo tem dois exemplos e caminhos a seguir. Palmeiras e Flamengo viveram anos de caos e fracassos futebolísticos (até dois rebaixamentos no caso alviverde). Organizados e com dinheiro em caixa, tornaram-se os times com elencos mais recheados do Brasil.

A diferença entre os dois é que o Verdão levanta taças. O trabalho de Alexandre Mattos, um homem forte no futebol que traz resultados positivos, é a meta que Raí precisa atingir. A alternativa é fazer com que os anos perdidos se prolonguem, e as taças sejam apenas lembranças para a torcida.

CLÁSSICOS DE DOR E SOFRIMENTO

A era soberana via um São Paulo que dominava os clássicos contra Corinthians e Palmeiras - apenas o Santos fazia jogo duro. Nos dez anos seguintes, porém, tudo mudou, e os números são desastrosos:

Jogo a jogo: confira o retrospecto completo do São Paulo em clássicos.