A DÉCADA PERDIDA
DO SÃO PAULO
DEZ ANOS DO FIM DA SOBERANIA
Em 19 de junho de 2009, uma era chegou ao fim no Morumbi. A diretoria tricolor decidiu demitir Muricy Ramalho por conta da queda para o Cruzeiro nas quartas de final da Copa Libertadores (o quarto fracasso consecutivo do treinador no torneio).
O técnico assumiu o cargo no início de 2006 para manter no topo a equipe que havia conquistado o Paulista, a Libertadores e o Mundial de Clubes no ano anterior e correspondeu com o tricampeonato do Brasileirão.
O São Paulo apostou na força de sua organização e de seu elenco para seguir vencedor mesmo com a saída de Muricy, mas o resultado foi uma década de eliminações, derrotas em clássicos e apenas um título - a Copa Sul-Americana de 2012.
PERSONAGENS DA DÉCADA

- Juvenal Juvêncio
Presidente do tri, manobrou para aumentar o mandato e ficar até 2014. Entrou em conflito com Ricardo Teixeira e Andrés Sanchez, e como consequência viu o Morumbi ser trocado pela Arena Corinthians como palco da Copa do Mundo de 2014. Morreu em 9 de dezembro de 2015 aos 81 anos.

- Carlos Miguel Aidar
Sucessor escolhido por Juvenal, ficou marcado por tentativa de interferência no trabalho de Juan Carlos Osorio, acusação de irregularidades na contratação de Iago Maidana, a participação da namorada do cartola na venda frustrada de Rodrigo Caio e soco aplicado pelo vice de futebol Ataíde Gil Guerreiro. Renunciou em outubro de 2015.

- Leco
Vice de futebol à época da demissão de Muricy, assumiu a presidência depois da saída de Aidar e foi reeleito em abril de 2017. Trouxe Raí para ser seu executivo de futebol, mas os resultados não vieram. Tem administração marcada pela troca frequente de treinadores.

- Rogério Ceni
Seguiu como o titular absoluto até a aposentadoria em 2015. Dois anos depois, voltou ao clube como treinador, mas acabou demitido por Leco em julho. Ceni assumiu o Fortaleza em 2018, e desde então conquistou a Série B na mesma temporada, o Cearense de 2019 e a Copa do Nordeste deste ano.
FRASES SOBERANAS
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- "A torcida paga ingresso para ver o time vencer. Quem quiser ver espetáculo que vá ao Teatro Municipal."
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- "O São Paulo, se bobear, vira o Bayern de Munique do Brasil. Ganha três campeonatos, perde um... O risco é ele virar o Lyon do Brasil, que ganhou sete e perdeu um."
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- "O campeão voltou"
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- "Qual vai ser o estádio de São Paulo para o Mundial? Se faz o estádio em Itaquera, como faz para chegar lá? A [chanceler alemã] Angela Merkel vai ter de sair de lá em um carro de bombeiro."
FUTEBOL PERDIDO
Enquanto reinava, o São Paulo tinha como linha formar elencos de boa qualidade com pouco investimento. Atletas em fim de contrato (Mineiro, Josué, Danilo) e reforços até então pouco conhecidos (Miranda, Borges) fizeram a diferença. Nestes dez anos, o modelo nunca foi repetido.
O comando do futebol perdeu a mão e passou a errar como não fazia, entrando em um ciclo ininterrupto de montagem e desmanche de elencos. Enquanto isso, jogadores são alçados a categorias de ídolos para serem descartados em seguida - casos de Rivaldo, Maicon (o "God of Zaga") e Álvaro Pereira.
E a troca constante de treinadores mostra a falta de uma ideia clara sobre o que fazer com o time. Após o fim do ciclo de Muricy Ramalho em 2009, passaram pelo comando do time 19 diferentes profissionais, entre eles o próprio Muricy em seu retorno. A falta de conquistas é consequência do caos.
SAIA E GANHE UM TÍTULO
Virou sina para o torcedor do São Paulo ver ex-jogadores conquistando taças assim que deixam o Morumbi. De pratas da casa a renegados, o padrão existe:
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Arouca (Santos, Palmeiras)Paulista 2010, 2011, 2012
Copa do Brasil 2010, 2015
Copa Libertadores 2011
Recopa 2012
Brasileirão 2016
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Casemiro (Real Madrid)UCL 2013–14, 2015–16, 2016–17, 2017–18
Mundial de Clubes 2016, 2017, 2018
La Liga 2016–17
Copa do Rei 2013–14
Supercopa da UEFA 2016, 2017
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Lucas Pratto (River Plate)Supercopa Argentina 2017
Copa Libertadores 2018
Recopa 2019
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Maicon (Grêmio)Copa do Brasil 2016
Copa Libertadores 2017
Recopa 2018
Gauchão 2018, 2019
AS TUAS GLÓRIAS VÊM DO PASSADO?
A aposta em ídolos de outros tempos virou padrão no São Paulo, mas com resultados pouco efetivos. Isto valeu para jogadores e também treinadores.

- Cicinho: O último lateral direito a ter mais de uma temporada relevante pelo São Paulo. Cicinho foi vendido ao Real Madrid depois do Mundial de 2005 e, após carreira irregular na Europa, retornou ao Morumbi em 2010, mas já não era nem sombra do camisa 2 de outrora.

- Lugano: Símbolo de raça e queridinho do torcedor, Lugano voltou em 2016 e participou de poucas partidas como titular, seguindo no clube após a aposentadoria para assumir o cargo de superintendente de relações institucionais.

- Hernanes: Em 2017, Hernanes teve volta breve e liderou a reação contra a degola. Após mais uma temporada na China, o Profeta foi contratado em definitivo no início deste ano, mas não é capaz de atingir seu ápice físico e técnico.

- Muricy Ramalho: O treinador que garantiu a soberania retornou em momentos menos brilhantes. Muricy salvou o time do rebaixamento em 2013 e, no ano seguinte, fez a melhor campanha no Brasileiro desde os títulos, um vice. Em 2015, deixou o clube ainda em abril pela saúde debilitada, que o faria se aposentar em 2016.

- Próximos: O sebastianimo tricolor segue forte, e a torcida deseja mais retornos. Jonathan Calleri e Miranda são os sonhos do momento. Melhor jogador da "década perdida", Lucas Moura também atiça os pensamentos tricolores.
VENDENDO BEM
O lado mais positivo do São Paulo na década pós-soberania é o mercado. Poucos sabem vender como o clube do Morumbi, e isto colaborou para que os anos não fossem ainda mais duros. Confira as principais vendas:
2010 Hernanes -> Lazio (R$ 31 milhões)
2012 Lucas Moura -> PSG (R$ 108,3 milhões)
2013 Casemiro -> Real Madrid (R$ 17 milhões)
2015 Gabriel Boschilia -> Monaco (R$ 24,3 milhões)
2015 Souza -> Fenerbahçe (R$ 27,7 milhões)
2016 Ganso -> Sevilla (R$ 34,4 milhões)
2017 David Neres -> Ajax (R$ 50,7 milhões)
2017 Thiago Mendes -> Lille (R$ 27,1 milhões)
2017 Luiz Araújo -> Lille (R$ 38 milhões)
2018 Eder Militão -> Porto (R$ 17,5 milhões)
2018 Lucas Pratto -> River Plate (R$ 44,5 milhões)
2018 Cueva -> Krasnodar (R$ 36 milhões)
2018 Rodrigo Caio -> Flamengo (R$ 22,2 milhões)
E O FUTURO?
Há luz no fim do túnel para o São Paulo? O clube tem uma vantagem: suas contas estão organizadas. Impulsionado pelas vendas bem sucedidas, o Tricolor apresentou balanço financeiro em abril que indica R$ 7 milhões de superávit em 2018.
O São Paulo tem dois exemplos e caminhos a seguir. Palmeiras e Flamengo viveram anos de caos e fracassos futebolísticos (até dois rebaixamentos no caso alviverde). Organizados e com dinheiro em caixa, tornaram-se os times com elencos mais recheados do Brasil.
A diferença entre os dois é que o Verdão levanta taças. O trabalho de Alexandre Mattos, um homem forte no futebol que traz resultados positivos, é a meta que Raí precisa atingir. A alternativa é fazer com que os anos perdidos se prolonguem, e as taças sejam apenas lembranças para a torcida.
CLÁSSICOS DE DOR E SOFRIMENTO
A era soberana via um São Paulo que dominava os clássicos contra Corinthians e Palmeiras - apenas o Santos fazia jogo duro. Nos dez anos seguintes, porém, tudo mudou, e os números são desastrosos:




