Venda de Julian Álvarez vai impulsionar a reconstrução do Manchester City de Pep Guardiola

Álvarez é, por boa margem, a venda mais cara da história do City, superando as saídas de Raheem Sterling e Ferrán Torres por mais de £17 milhões: pode chegar a £34 milhões se as cláusulas adicionais forem atingidas. Mas, além do valor bruto, a margem de lucro também é muito maior do que nas vendas de Sterling e Torres - o primeiro foi trazido por £44 milhões; o segundo, por £20 milhões.

Na verdade, no mesmo mês em que o City vendeu Ferrán para o Barcelona, Álvarez foi contratado junto ao River Plate por meros £14 milhões. Agora, ele pode render aos campeões ingleses até £68 milhões de lucro - e após contribuir muito mais em campo do que Torres. Ele deixa o City com 36 gols e 18 assistências em 103 jogos - dos quais apenas 62 foram como titular.

Álvarez ampliou ainda mais sua coleção de troféus com o City, deixando o clube com dois títulos da Premier League, uma Copa da Inglaterra, uma Champions League, uma Supercopa da UEFA e um Mundial de Clubes da FIFA. Ele pode ter tido papéis secundários em algumas dessas conquistas, mas foi a estrela do show na final do Mundial, marcando dois gols para abrir e fechar a goleada por 4 a 0 sobre o Fluminense.

Álvarez sempre soube qual era seu papel e, naquela primeira temporada, nunca reclamou, começando como titular em apenas 13 dos jogos do City na Premier League. Na verdade, Guardiola elogiou sua paciência, comparando-a com a reação de João Cancelo, que acabaria sendo emprestado ao Bayern de Munique e negociado com o Barcelona por esses problemas internos.

Álvarez acabou desempenhando um papel muito maior em sua segunda temporada devido às lesões dos principais jogadores do City. Ele foi o principal beneficiado pela longa ausência de Kevin De Bruyne e, por um período no final de 2023, foi o jogador do City com mais minutos na Premier League, sendo titular em cada uma das primeiras 25 partidas.

Ele formou uma ótima parceria com Haaland e, depois, assumiu o protagonismo quando o norueguês lesionou o pé, marcando seis gols entre dezembro e janeiro.

No entanto, quando De Bruyne e Haaland voltaram, o argentino teve que retomar seu papel secundário, o que significou ser reserva em partidas importantes, como no clássico contra o Manchester United, nos dois jogos contra o Real Madrid na Champions League e na final da FA Cup.

Ele entrou em campo em todas essas partidas e desperdiçou duas chances claras contra o United na final, quando o City sofreu sua primeira derrota em mais de cinco meses.

Os últimos meses da temporada pareceram selar o destino de Álvarez. Do ponto de vista dele, a falta de oportunidades confirmou que ele seria apenas um substituto quando todos estão em forma. Embora ele tenha começado a considerar deixar o City já em janeiro, foi neste meio de ano que tudo se encaminhou.

Histórias de que ele queria sair começaram a vazar para a imprensa espanhola, e o próprio jogador deixou seus sentimentos claros em uma entrevista a um canal de TV argentino, durante as Olimpíadas: "Na temporada passada, eu fui um dos jogadores com mais minutos no City... Você não gosta de ficar de fora dos jogos importantes, você quer contribuir".

Do ponto de vista do City, porém, suas aparições finais mostraram que, embora fosse, sem dúvida, um bom jogador, ele não era alguém capaz de mudar o rumo do jogo. Guardiola deixou isso claro com uma resposta ríspida aos comentários de Álvarez.

"Eu sei que ele quer jogar momentos importantes, sim. Mas os outros também querem", retrucou o técnico, durante a turnê de pré-temporada do City. "Eu vi que ele quer pensar sobre isso (seu futuro no City). Ok, pense sobre isso e depois nos diga o que quer fazer".

Naquele ponto, ficou claro que, pelo preço certo, Álvarez poderia deixar o City. E o preço certo foi exatamente o que o City conseguiu, um retorno quase que quatro vezes maior sobre o investimento inicial pelo argentino, que custou £31 milhões a mais do que Haaland -- que continuará sendo o principal atacante enquanto desejar permanecer no clube.

O City já começou, portanto, a planejar a vida sem seu reserva. Em um negócio semelhante ao de Álvarez, contratou, em janeiro, Claudio Echeverri, de 18 anos, também do River Plate, por £12,5 milhões (além dos bônus) e o emprestou de volta ao clube da Argentina. Echeverri provavelmente não se juntará ao time principal nesta temporada, mas é uma promessa para o futuro.

Savinho também acaba de chegar do Troyes, e, embora o jovem de 20 anos seja mais um ponta do que um substituto direto para Álvarez, tem tudo para, ao menos, tentar igualar o número de gols e assistências do argentino. Oscar Bobb, destaque do City nesta pré-temporada, também pode assumir o papel de Álvarez. James McAtee também, devendo permanecer com o elenco principal e podendo atuar como criador, atrás de Haaland.

A venda de Álvarez agora significa que o City pode fazer mais contratações de peso para reforçar o elenco. Eberechi Eze é um jogador que os ingleses admiram muito, e há reportagens indicando que o clube intensificou negociações com o Crystal Palace pelo atleta, avaliado em £68 milhões - exatamente o mesmo valor inicial que o City receberá com a venda de Álvarez.

Mas Eze é apenas um dos jogadores que o City considera enquanto planeja seu futuro a longo prazo, que provavelmente não terá dois dos jogadores mais influentes da era Guardiola - Kevin De Bruyne e Bernardo Silva. De Bruyne, aos 33 anos, permanecerá nesta temporada, que provavelmente será sua última pelo clube; Bernardo, por outro lado, há muito tempo já avalia deixar o Etihad Stadium e, no ano passado, reduziu sua cláusula de rescisão para £50 milhões.

É difícil imaginar um time do City sem De Bruyne ou Bernardo, mas o clube nunca para no tempo, está sempre de olho no futuro. Buscar tanto Álvarez e vendê-lo menos de três anos depois é uma prova disso.

É hora, então, dos torcedores do City se despedirem e desejarem boa sorte à 'La Araña' - mas, acima de tudo, de brindarem a mais uma 'tacada de mestre' do City no mercado.