Títulos no Liverpool são mais importantes que no Real Madrid: Trent-Alexander Arnold sabe disso e pode se transformar em um ícone dos Reds

Embora Alexander-Arnold nunca tenha expressado o desejo de deixar o Liverpool, ele já admitiu que a perspectiva de sucesso será o fator determinante em sua decisão sobre o futuro. "O mais importante sempre são os troféus", disse. "Eu quero ganhar troféus, sou um jogador muito motivado por conquista... Isso é o que me move".

Assim, é fácil entender por que ele estaria interessado em ir para o Real Madrid, vencedor de 15 Champions Leagues. Os Blancos são a realeza do futebol, um time em que quase todo mundo sonha em jogar - e o próprio Liverpool sabe muito bem disso. Também crias da base, Steve McManaman e Michael Owen são exemplos históricos que não resistiram ao chamado do Madrid.

McManaman teve problemas com o Liverpool antes de sua saída sem custos, em 1999 - ele se sentia subestimado, mal pago e irritado com a presunção de que renovaria seu contrato apenas por ser de Liverpool -, mas também foi seduzido pelo charme do "uniforme branco, Di Stéfano, Puskás e toda essa história".

Owen ficou igualmente empolgado com a perspectiva de se transferir para o Real Madrid, mas "não dormiu por uma semana" antes de deixar o Liverpool, tamanha era sua angústia em virar as costas para o clube que o havia lançado ao estrelato.

"Até no caminho para o aeroporto, eu estava chorando muito. Não me importo em dizer isso", revelou o vencedor da Bola de Ouro, em entrevista recente à GOAL. "Porque você pensa que vai ser jogador do Liverpool para sempre. Mas então você pensa: 'Meu Deus, é o Real Madrid - vou me arrepender para sempre se disser não'. Era uma chance de experimentar uma liga diferente, um país diferente, um idioma diferente, uma cultura diferente".

"Era sobre poder jogar com aquele famoso uniforme branco, jogar no Bernabéu, jogar com (Zinédine) Zidane, (Luis) Figo, (David) Beckham, Roberto Carlos. Mas mesmo assim, dois segundos depois, eu pensava: 'Não, eu quero ficar no Liverpool pelo resto da minha vida'. Então, foi uma daquelas decisões realmente difíceis e transformadoras".

Agora, Alexander-Arnold terá que enfrentar o mesmo dilema.

Muito tem sido falado sobre a recente troca de comando em Anfield, após Jurgen Klopp decidir deixar o clube no final da temporada passada, sendo substituído por Arne Slot - e isso é compreensível até certo ponto. Klopp não apenas lançou Alexander-Arnold no profissional, mas o transformou em um jogador-chave de um dos melhores times do Liverpool de todos os tempos.

Mas, apesar de suas indiscutíveis qualidades, não havia garantias de que Alexander-Arnold seria tão fundamental no time de Slot - e houve questionamentos quando ele foi substituído nos estágios finais de cada um dos três primeiros jogos do Liverpool na nova temporada da Premier League, especialmente porque o jogador de 25 anos não escondeu sua frustração na partida contra o Brentford.

Graeme Souness interpretou as saídas antecipadas como um sinal de que Alexander-Arnold já poderia ter decidido se juntar ao Madrid e que Slot estava, portanto, preparando Conor Bradley para assumir a lateral-direita na próxima temporada. Paul Scholes, ainda, chegou a dizer: "Não sei se ele gosta do Trent".

No entanto, nada poderia estar mais longe da verdade. Em vez de diminuir as chances de permanência de Alexander-Arnold, a chegada de Slot pode, na verdade, deixar tudo mais fácil.

Alexander-Arnold é o seu crítico mais duro, o que é realmente impressionante considerando que estamos falando de um dos melhores laterais do mundo nos últimos cinco anos. Seu cruzamento e passe são sempre reconhecidos, mas cada erro individual é minuciosamente analisado pela imprensa. Enquanto isso, outros laterais-direitos ingleses, como Reece James, Kieran Trippier e Kyle Walker, frequentemente escapam ilesos.

Mesmo quando Trent vai bem defensivamente - como fez marcando Rafael Leão, na vitória por 3 a 1 sobre o Milan, pela estreia na Champions -, ele é raramente é elogiado. Mas isso não parece incomodá-lo muito.

Neste início de 'era Slot', ele chegou a pedir para o técnico ser 100% honesto com ele em todos os momentos.

"Falamos sobre metas e objetivos e eu disse a ele que gostaria de ser o defensor que ninguém quer enfrentar na Europa," revelou Arnold, sobre uma conversa recente com Slot. "Se a qualquer momento um atacante passar por mim, ele vai falar sobre isso nas reuniões em grupo e individuais, dizendo que isso não pode acontecer.

"Então, nós analisamos cada jogo juntos e ele destaca onde quer que eu melhore. Mesmo no jogo contra o Milan, vimos uns 20 lances nos quais eu poderia ter feito melhor e nos quais eu fui bem. É muito bom ter um treinador que vai me ajudar, guiar e ensinar como ser melhor como jogador. Sou alguém que quer aprender, alguém que quer ser o melhor e alguém que se esforça para ser o melhor de todos os tempos".

Alguns vão questionar se Alexander-Arnold pode realmente alcançar seus objetivos enquanto continua conquistando grandes troféus no Liverpool - mas isso já foi respondido. Não havia melhor lateral-direito na conquista dos Reds na Champions League e Campeonato Inglês sob o comando de Klopp; então não há razão para não crer que ele possa chegar aos mesmos feitos, agora sob Slot.

Seria pedir demais para o ex-treinador do Feyenoord ganhar um título em sua primeira temporada na Inglaterra? Talvez. Mas o Liverpool parece mais do que capaz de ao menos desafiar Manchester City e Arsenal pela liderança, mesmo após um início encorajador de temporada.

A expetativa em Anfield, agora, parece ser de mais controle, menos caos - e isso deve agradar Arnold, que tem se beneficiado da estratégia de dois volantes adotada por Slot. Na verdade, quando perguntado sobre sua assistência para o gol de Luis Díaz contra o Bournemouth, Alexander-Arnold concordou que não é comum para um lateral-direito estar tão avançado, mas apontou que isso era uma prova da "liberdade" para atacar que ele tem dentro deste sistema de Slot.

"Está funcionando bem," disse no pós-jogo. "Tentamos lotar o meio-campo e acertar as triangulações. Trabalhamos nisso nos treinos e executamos com perfeição [contra o Bournemouth]. Então, por enquanto, estou completamente focado nesta temporada e em quantos gols, assistências e clean-sheets (jogos sem sofrer gols) posso conseguir. Espero fazer o suficiente para ajudar a ganhar a Premier League".

O título é certamente um objetivo realista para o Liverpool nesta temporada. O elenco continua um pouco curto em certas áreas, mas há ótimas notícias - Ryan Gravenberch tem demonstrado confiança, a defesa foi vazada apenas uma vez em cinco partidas do Campeonato Inglês e o Liverpool permanece bem abastecido no ataque.

E isso não vale só para agora - mas também para o futuro. Gravenberch, Mac Allister, Szoboszlai, Cody Gakpo, Darwin Núñez, Ibrahima Konaté, Bradley, Jarell Quansah e Harvey Elliott têm todos 25 anos ou menos. Os sinais iniciais apontam que Slot é mais do que capaz de concluir o trabalho de Klopp na reformulação de elenco.

Alexander-Arnold também está em perfeita posição para se tornar o líder desse 'novo' Liverpool. Independentemente de Van Dijk e/ou Salah renovarem ou não, o lateral é o rosto da próxima geração em Anfield, o garoto de Liverpool destinado a seguir os passos de Steven Gerrard, saindo da academia e conquistando a braçadeira de capitão do clube.

"Esse é um objetivo meu", admitiu, acrescentando: "Mas, se isso isso acontecer, está fora das minhas mãos".

O importante, porém, é que ele ainda deseja a braçadeira, porque isso sugere que seu vínculo com o único clube de seu coração - e, talvez ainda mais importante, que a perspectiva de levantar troféus ainda significaria mais para ele com a camisa do Liverpool do que com a do Real.

No ano passado, o camisa 66 afirmou que os títulos conquistados com Klopp eram maiores do que os conquistados pelo Manchester City de Pep Guardiola, devido a "como ambos os clubes construíram suas equipes", dizendo que o Liverpool enfrentava "uma máquina construída para vencer". Só que o Real Madrid não é muito diferente nesse aspecto - um clube gigantesco onde o sucesso é quase garantido por fatores financeiros e apoio estatal.

O Liverpool, claro, não é um clube pobre. Mas não há como negar que vencer outro Inglês ou outra Champions com os Reds - desta vez como capitão - superaria qualquer coisa que ele pudesse conquistar no Santiago Bernabéu.

Como dita a famosa frase de Francesco Totti, um título com seu clube da cidade natal vale "dez vezes mais". Arnold pensa da mesma forma, mas seu amor pelo Liverpool não deveria ser colocado à prova por muito mais tempo.

Caso contrário, é bem possível que outro ídolo dos Reds acabe naquele famoso uniforme branco.