Teimosia de Gareth Southgate funciona e deixa Inglaterra a um jogo da glória

Os jogos mais importantes da Inglaterra na era Southgate têm seguido o mesmo padrão. A Inglaterra começa bem, mas recua, levando a um final de tirar o fôlego. Certamente foi o caso na final da Euro 2020, quando tomaram a dianteira cedo em Wembley, com um gol de Luke Shaw, apenas para acabar sofrendo mais uma dolorosa derrota nos pênaltis para a Itália.

Contra a Holanda, parecia que outro confronto de cobranças alternadas estava a caminho, já que a Inglaterra mais uma vez cedeu o controle em um segundo tempo totalmente exaustivo. Southgate colocou Shaw no lugar de Kieran Trippier no intervalo, mas apenas porque o jogador do Newcastle estava lesionado.

A falha mais evidente do técnico da Inglaterra é sua incapacidade de reagir quando o oponente cresce no jogo. Ele não é proativo o suficiente com suas substituições, e ninguém ficou surpreso que ele tenha esperado até os 35 minutos do segundo tempo para começar a fazer mudanças.

Felizmente eles acabaram fazendo Southgate parecer um gênio. O técnico finalmente sacou Harry Kane, que mostrou frieza ao marcar de pênalti e empatar para a Inglaterra no primeiro tempo, mas depois desapareceu quase completamente. Ollie Watkins entrou em seu lugar. Ele também colocou Cole Palmer no lugar de Phil Foden.

Tirar Foden causou alguma surpresa, já que ele vinha sendo o melhor jogador da Inglaterra na partida, mas, aos 45 minutos, Southgate ganhou razão de maneira brilhante. Palmer imediatamente procurou por Watkins, depois de pegar a bola na direita, e o encontrou na área com um passe maravilhosamente preciso. O atacante, então, deu um toque inteligente para girar antes de disparar um chute forte e preciso, cruzando Bart Verbruggen, e indo para o fundo das redes.

A Holanda lutou em vão para reagir nos acréscimos, mas o jogo estava ganho. As decisões ousadas e pouco características de Southgate valeram a pena, e foi impossível não se alegrar com as comemorações após o apito final.

Na verdade, foi a Holanda que saiu na frente, com apenas sete minutos de jogo, através de um potente chute de longa distância de Xavi Simons. Denzel Dumfries também veria um cabeceio acertar a trave, mais tarde no primeiro tempo. Fora isso, a Inglaterra foi completamente dominante, com Foden atuando como principal criador.

O meia do Manchester City mostrou o futebol que lhe rendeu o prêmio de melhor jogador da Premier League em 2023/24, enquanto driblava a defesa holandesa. Ele teve um de seus chutes afastados em cima da linha e outro que acertou a trave. A Inglaterra finalmente trocava passes de forma rápida, coisa que não aconteceu nos cinco jogos anteriores da campanha, forçando a equipe de Ronald Koeman a recuar.

As coisas poderiam ter sido diferentes se o gol de empate de Kane não tivesse vindo tão rapidamente, mas a seleção inglesa estava jogando bem, e parecia que o jogo seria decidido nos 90 minutos quando as duas equipes foram para o intervalo. Mas nunca é tão simples com a Inglaterra de Southgate.

Koeman colocou Wout Weghorst logo de cara, o que deu à Holanda uma opção de saída muito necessária. Tijani Reijnders, Jerdy Schouten e Joey Veerman, que entrou no lugar do lesionado Memphis Depay no final do primeiro tempo, começaram a dominar o meio-campo, fechando os espaços onde Foden, Bukayo Saka e Kobbie Mainoo vinham encontrando espaço.

A Inglaterra perdeu completamente seu ritmo e não conseguiu sequer um chute ao gol nos primeiros 42 minutos do segundo tempo. No entanto, o mais importante é que eles se esforçaram. Os holandeses tiveram dificuldade em criar chances claras, exceto por um chute desviado de Virgil van Dijk, que foi bem defendido por Jordan Pickford. E, no final, mais um momento de brilho individual levou a Inglaterra à vitória, com Watkins fazendo o gol heroico.

No geral, a Inglaterra teve uma vitória justa, mas a Holanda tinha todo o direito de se sentir prejudicada. O pênalti de Kane foi o ponto de virada na partida, uma das decisões mais leves que você pode imaginar - para colocar de forma mais sutil possível.

Não houve protestos quando Kane caiu na área, após chutar para fora, e se o capitão da Inglaterra não tivesse sido tão dramático, Dumfries provavelmente teria escapado. Foi uma tentativa honesta de ganhar a bola, e Kane já havia desferido seu chute. O árbitro da partida, Felix Zwayer, inicialmente não deu atenção ao lance, apontando para o tiro de meta.

Mas então o VAR interveio. O assistente Bastian Dankert sugeriu a marcação de um pênalti, o que levou Zwayer a verificar o monitor à beira do campo. E na enorme maioria das vezes em que isso acontece, o resultado é apenas um. Kane foi para a cobrança e chutou a bola rasteira para o fundo da rede.

Compreensivelmente, o incidente deixou Koeman furioso. "Isso não é um pênalti. A única intenção dele era bloquear o chute. Harry Kane então chuta e os pés colidem", disse aos repórteres o treinador holandês. "O futebol está sendo destruído por esse tipo de decisão do VAR. Este pênalti não teria sido marcado na Inglaterra. O que você deve fazer como defensor?".

O técnico holandês está certo sobre o VAR. Mesmo que você concorde com a maioria das decisões, ele tornou o futebol muito menos fluido como espetáculo, pois interrompe completamente o fluxo natural das partidas. Desta vez, no entanto, a Inglaterra não se importará. Às vezes, é melhor ter sorte do que ser bom, o que tem sido um tema recorrente para Southgate neste torneio.

O treinador comentou sobre o "ambiente incomum" em torno do elenco da Inglaterra após eles terminarem na liderança do grupo com cinco pontos. Vaias choveram sobre o técnico de 53 anos após o terceiro jogo, enquanto os torcedores expressavam sua frustração com suas escolhas conservadoras e táticas, com alguns até sugerindo nas redes sociais que ele devesse ser demitido imediatamente.

Nomes como Gary Lineker, Gary Neville, Alan Shearer e Rio Ferdinand também pediram publicamente para Southgate deixar de lado a cautela e aproveitar ao máximo o enorme talento ofensivo à sua disposição. Seria fácil ceder à pressão, para não perder a conexão construída com os torcedores ao longo dos últimos oito anos, mas, mesmo diante da tentação, Southgate teimosamente se manteve fiel aos seus princípios fundamentais.

A Inglaterra melhorou gradualmente nas fases eliminatórias, apesar de sua recusa em fazer mudanças radicais no time. O entretenimento ainda tem sido escasso, mas Southgate agora é a primeira pessoa na história da seleção masculina a alcançar duas finais importantes, o que é um testemunho positivo de seu trabalho.

"Todos nós queremos ser amados, certo? Quando você está fazendo algo pelo seu país e é um inglês orgulhoso, quando você não sente isso de volta e tudo o que lê é crítica, é difícil," disse na coletiva de imprensa pós-jogo em Dortmund. "Celebrar uma segunda final é muito, muito especial. Especialmente para os torcedores que viajam. Claro, sou eu quem escolhe a equipe. Poder dar a eles uma noite como a de hoje é muito, muito especial."

O que Southgate conquistou é especial e pode nunca ser repetido. Quaisquer reservas sobre seu estilo de gestão agora devem ser deixadas de lado, pois ele merece o respeito e o total apoio de seu país na expectativa da final contra a Espanha.

Não se engane: a Inglaterra enfrentará o seu maior teste na Euro 2024 até agora. A Espanha é a favorita para levantar o troféu, e com razão. A seleção de Luis de la Fuente venceu todos os seis jogos, marcando 13 gols — o maior total da competição — enquanto sofreu apenas três.

Na verdade, o futebol de qualidade tem sido escasso neste torneio. Evitar a derrota tem sido o principal objetivo, levando a confrontos parecidos com jogos de xadrez decididos por margens mínimas, mas a Espanha é exceção.

Com Lamine Yamal e Nico Williams liderando o ataque, Fabián Ruiz e Rodri orquestrando o meio-campo, a Fúria tem sido empolgante de assistir, surpreendendo os adversários com seus passes rápidos e incisivos e uma eficiência implacável no ataque. Parar os jogadores perigosos da Espanha será uma tarefa muito difícil para a Inglaterra — mas eles podem conseguir.

É verdade que a seleção inglesa teve um caminho bem mais fácil, mas, na maior parte do tempo, foi muito sólida defensivamente. A falta de fluidez no ataque tem sido o maior problema da Inglaterra, já que enfrentaram uma série de equipes dispostas a jogar com uma linha defensiva baixa.

A Espanha será um desafio completamente diferente, o que pode, na verdade, beneficiar os ingleses. Eles provavelmente serão pressionados em direção ao próprio gol por longos períodos, devido à habilidade técnica superior espanhola, mas poderá haver muito mais espaço no contra-ataque para jogadores como Foden, Bellingham e Saka aproveitarem.

Há um argumento de que começar com Watkins em vez de Kane seria a melhor forma de esticar a defesa da Espanha, pois a velocidade de Florian Wirtz e Bradley Barcola prejudicou a equipe espanhola quando a dupla saiu do banco pela Alemanha e França, respectivamente, nas fases anteriores. Mas mesmo que o capitão mantenha seu lugar, a Inglaterra deve ser capaz de jogar um futebol mais vistoso e direto do que fez até agora, e uma surpresa é totalmente possível.

A probabilidade é que Southgate mantenha o mesmo grupo de jogadores na final de Berlim. Mas desta vez, não deve haver reclamações quando a escalação for anunciada. Tendo já provado que todos os seus críticos estavam errados, é preciso confiar em Southgate.

“Eu aceitei o cargo para tentar melhorar o futebol inglês e agora estamos em uma segunda final,” declarou após a vitória sobre a Holanda. “A última foi a primeira em 50 anos, agora estamos na primeira que não é jogada em nosso território. Acredito que temos uma equipe que estará junta por um bom tempo, então não é como se esta fosse uma equipe no final de um ciclo. Acho que proporcionamos aos nossos torcedores algumas das melhores noites dos últimos 50 anos, então estou muito orgulhoso disso. Fico feliz se todos em casa estão se sentindo como nós e como os torcedores no estádio estão se sentindo. Mas, do nosso ponto de vista, viemos aqui para tentar vencer o torneio, e esse ainda é o nosso objetivo.”

Existem muitos cérebros mais impressionantes no futebol do que Southgate. Alguns deles até já estiveram em sua posição, mas nenhum se aproximou de transformar a Inglaterra em candidata a títulos.

Southgate é um líder reflexivo e um comunicador habilidoso, que criou relacionamentos significativos com todos os seus jogadores a ponto de eles estarem dispostos a enfrentar qualquer desafio por ele. Sua força mental é uma fortaleza, e ele possui um espírito competitivo profundamente enraizado que o mantém em busca de sucesso após cada revés.

A final da Euro 2024 pode muito bem ser o último jogo da gestão de Southgate. Ele pode "trazer o futebol de volta para casa", mas também é possível que a Espanha se mostre forte demais. De qualquer forma, Gareth Southgate poderá sair como uma verdadeira lenda da Inglaterra.