Jamie Carragher está errado: Salah e Alexander-Arnold não são culpados pelas distrações contratuais – a incompetência do Liverpool é o verdadeiro problema

O Liverpool encerrou 2024 no topo, não apenas da Premier League, mas também da Champions League. Ainda assim, não conseguiu aproveitar plenamente a véspera de Ano Novo.

Poucas horas antes da virada do dia 31 de dezembro, o Real Madrid fez sua jogada por Alexander-Arnold, desencadeando o previsível pânico entre os torcedores dos Reds.

Mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, Florentino Pérez quase sempre consegue o que quer – a longa e arrastada saga envolvendo Kylian Mbappé é prova disso. E está claro que o presidente do clube mais poderoso do futebol está decidido a contratar o herói do Liverpool, que agora tem menos de seis meses restantes em seu contrato.

Os Reds ainda não perderam a esperança de manter Alexander-Arnold, mas parece cada vez mais que estão lutando uma batalha perdida. Evidentemente, nem sequer cogitam a possibilidade de perder um jogador tão fundamental nesta altura da temporada, mas uma transferência gratuita ao final do contrato parece inevitável.

Michael Owen entende bem o que significa trocar o Liverpool pelo Real Madrid, e agora não tem mais dúvidas de que Alexander-Arnold está destinado ao Santiago Bernabéu em julho.

"O fato de o Real Madrid ter deixado claras suas intenções de contratar Trent Alexander-Arnold me faz acreditar que é apenas uma questão de tempo até que ele assine com eles", escreveu o ex-atacante inglês no X. "Se ele tivesse intenção de renovar, o Real Madrid não teria feito sua jogada oficialmente. Conversas nos bastidores certamente já aconteceram. É uma grande notícia."

Jamie Carragher, ex-companheiro de Owen e lenda dos Reds, também está convencido de que a investida formal do Real Madrid na véspera de Ano Novo para contratar Alexander-Arnold ainda na janela de inverno faz parte de um plano maior.

"Eu amo o Trent como pessoa e jogador", publicou o agora comentarista no X. "Mas sua equipe certamente orientou o Real Madrid a fazer uma oferta, sabendo que o Liverpool recusaria. É uma forma de se proteger quando ele sair de graça."

A análise de Carragher sobre Alexander-Arnold e os motivos do Real Madrid parece certeira. Ele também acertou ao destacar que "a prioridade mais importante para o Liverpool em 2025 é conquistar a Premier League. Nada – nem contratos, nem especulações sobre o futuro de alguém – deve atrapalhar isso."

Carragher também apontou um ponto relevante: a conversa sobre transferências é "algo que o clube e os torcedores não precisam às vésperas de um grande jogo."

Entretanto, sugerir que o clube merece tanta simpatia quanto os torcedores é absurdo. O Liverpool, de fato, não precisava dessa distração – mas foi o próprio clube que permitiu que ela acontecesse.

Como se alguém precisasse ser lembrado, Alexander-Arnold não é um caso isolado em Anfield. O Liverpool não tem apenas um jogador-chave em posição de assinar um pré-contrato com outro clube – eles têm três. E isso não é apenas infeliz; é imperdoável.

Sejamos honestos: se o Manchester United tivesse jogadores do calibre de Alexander-Arnold, Salah e Virgil van Dijk à beira de ficar sem contrato, uma combinação de INEOS e os Glazers estaria sendo duramente criticada pelos torcedores e pela mídia neste momento.

Então, por que a Fenway Sports Group (FSG), Michael Edwards e o diretor esportivo Richard Hughes deveriam ser poupados de críticas, especialmente após uma janela em que apenas um novo reforço chegou ao clube? Não há um plano de contingência à vista para lidar com a possível perda de três jogadores que foram essenciais para a conquista da sexta Champions League, em 2019, e do primeiro título inglês em 30 anos na temporada seguinte.

É, no mínimo, estranho que um comentarista tão bem informado como Jamie Carragher – e muitos outros na imprensa – tenha tentado retratar os jogadores e seus representantes como os vilões da história.

Quando Salah tornou pública, pela primeira vez, sua frustração com a falta de progresso nas negociações de um novo contrato, Jamie Carragher o chamou de "egoísta", acusando-o de pensar apenas em si mesmo "e não no clube".

Mas o contrato de Salah está prestes a expirar, e ele claramente quer ficar. Aos 32 anos, ele não tem o direito de pensar no próprio futuro e lutar por um novo acordo? Será que ele já não fez o suficiente pelo Liverpool para merecer uma extensão? No final das contas, lealdade deveria ser uma via de mão dupla.

É verdade que, em um mundo ideal, esses assuntos não seriam debatidos na mídia. No entanto, o futebol é um negócio complicado, repleto de pessoas motivadas a maximizar seus ganhos financeiros. Defender interesses individuais sempre fez parte do jogo – e talvez sempre tenha sido assim. Será que o Liverpool realmente acreditava que os representantes de seus três jogadores mais importantes aceitariam negociar nos termos impostos pelo clube?

Além disso, as situações contratuais dos atletas já eram um tema constante de discussão antes mesmo de Salah quebrar o silêncio. Vale lembrar que Alexander-Arnold, assim como Van Dijk, manteve sua postura fiel: nenhum dos dois fez declarações públicas ou polêmicas sobre seus casos particulares.

Carragher, por outro lado, tem dedicado mais tempo em colunas e transmissões tentando apelar ao senso de pertencimento de Alexander-Arnold – na esperança de que ele rejeite o interesse do Real Madrid – do que abordando a verdadeira raiz do problema: a falta de visão estratégica do clube. Essa carência, aliás, pode ser atribuída à recente instabilidade nos bastidores em Anfield, resultado da saída de uma série de figuras influentes.

Relatos indicam que Alexander-Arnold e seus conselheiros planejaram tudo desde o início. Em 2021, ele teria optado por um contrato de quatro anos, em vez de seis, justamente para se colocar em uma posição de sair de graça em 2025.

Mas, se a imprensa já sabia disso, como o Liverpool não sabia? Ou, caso soubesse, por que não lucrar com um de seus ativos mais valiosos no verão europeu passado? Outra possibilidade seria o clube deixar claro que Alexander-Arnold pretendia cumprir o contrato até o fim.

Além disso, a janela de oportunidade para vender Salah também se fechou, deixando o clube em uma situação ainda mais complicada. É impressionante que o Liverpool possa perder, sem retorno financeiro, o que muitos consideram o melhor jogador do mundo no momento.

O que, exatamente, eles estavam esperando? Salah está jogando tão bem que a pressão agora está inteiramente sobre o clube para atender às suas exigências contratuais. Permitir que as negociações de renovação se arrastassem só colocou o Liverpool em uma posição desfavorável.

Ao se colocar nessa situação, o Liverpool efetivamente se encurralou. Se Salah sair agora, a reação dos torcedores será amarga, brutal – e completamente justificada.

A verdade é que, por meio de uma combinação de silêncio, inação e incompetência, o Liverpool perdeu o controle da narrativa há muito tempo.

Ninguém dentro do clube fez ou disse algo para acalmar os torcedores, cada vez mais ansiosos. Além disso, não houve clareza sobre a estratégia do clube, o que abriu espaço para uma avalanche de especulações sobre transferências, que pode causar danos sérios durante a segunda metade da temporada.

Existe um risco real de que as coisas se tornem tóxicas em Anfield, com os "guerreiros do teclado" já se manifestando com força. Eles foram suficientemente encorajados pelas críticas de comentaristas renomados a Alexander-Arnold para rotular um autêntico herói local de "rato", "cobra" e muito mais. Enquanto isso, Arne Slot foi novamente forçado a responder a perguntas sobre o futuro de seu lateral-direito titular na coletiva.

Tudo isso parece extremamente injusto e desnecessário. Slot e seus jogadores se colocaram em uma posição excelente para conquistar o campeonato, mas, enquanto o Ano Novo deveria começar com esperança e entusiasmo, também há um sentimento inegável de medo e frustração de que essa campanha promissora possa desmoronar.

Se isso acontecer, o Liverpool só terá a si mesmo para culpar.