James Rodríguez merece nova chance no São Paulo? Os prós e contras de ficar com o colombiano

Voltemos ao dia 29 de março de 2022. A Colômbia conquistou uma vitória sobre a Venezuela, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, com um gol de pênalti de James Rodríguez, mas que logo no apito final provaria-se inútil - o Peru, simultaneamente, bateu o Paraguai e herdou a vaga de repescagem, na 5º posição geral. A seleção colombiana estava fora do Mundial de 2022.

Quem diria que, menos de dois anos e meio depois, o mesmo James Rodríguez liderava a seleção da Colômbia a apenas sua terceira final de Copa América na história. E a palavra é realmente esta: liderava.

As grandes performances de James são ainda mais impressionantes considerando os últimos anos. Antes da chegada de Néstor Lorenzo, técnico da equipe, o meia vivia sua pior fase na carreira internacional, ao mesmo pé em que Luis Díaz, já destaque da seleção na Copa América de 2021, ganhava protagonismo. Não à toa a ausência no Mundial do Qatar gerou diversas críticas tecidas pela mídia colombiana.

Isso, claro, é passado. James foi o grande garçom da Copa América nos Estados Unidos e deixou às claras, em palco mundial, que joga muito, muito futebol. Sua fase é espetacular - e se conseguir replicar o bom desempenho no MorumBIS, não há quem possa impedi-lo de ser um dos melhores jogadores do Brasil.

Logicamente, há mais gente impressionada com as performances do colombiano nos Estados Unidos. E é fato: James aumentou consideravelmente seu valor de mercado nas últimas semanas.

No que pese o futuro do colombiano, o São Paulo nunca despistou a possibilidade de negociá-lo. Em entrevista no último dia 9, o presidente Julio Casares disse à ESPN Brasil: "As atuações dele credenciam para receber algo (alguma proposta). Ele é jogador do São Paulo, vai se reapresentar após a Copa América. É uma questão técnica. Passaram Dorival [Júnior], [Thiago] Carpini e [Luis] Zubeldía, e com nenhum desses técnicos ele se firmou. Mas ele se reapresenta e, se tiver o mesmo desempenho em treinos e partidas, pode ser reintegrado. É uma decisão técnica".

Continuou: "A Copa América colocou ele de novo em boa prateleira. Com isso, podemos ter uma oportunidade boa para ele e para o clube. Porque jogador descontente no clube não pode ser. O São Paulo é maior que todos nós dirigentes e jogadores. Se voltar com convicção de se entregar nos treinamentos, contribuir e disputar uma posição, assim que funciona o futebol, será bem-vindo como foi na contratação. Mas, se vier com uma cabeça de querer sair, havendo uma compensação financeira para ajuste de toda a situação, ele será feliz em outro lugar".

E a "compensação financeira" certamente seria de bom grado ao São Paulo, que precisará acelerar suas buscas por um novo volante, após as lesões de Pablo Maia e, mais recentemente, Alisson. Thiago Mendes, um dos principais alvos da equipe na janela e que seria peça de reposição, vem tendo negociação mais complicada do que o esperado, a GOAL entende. Além disso, a saída de James também serviria de grande alívio na folha salarial da equipe, considerando seu alto custo mensal.

Assim, mesmo que o retorno em campo não tenha sido o esperado, o São Paulo ainda poderia aproveitar do bom momento de mercado do atleta para, mesmo assim, angariar certo retorno financeiro.

"O primeiro jogador que fui ver quando aceitei o cargo foi James", disse Lorenzo, em entrevista recente ao The Athletic.

Alguém aí surpreso?

Nunca é chover no molhado exaltar a categoria e altíssimo nível de James Rodríguez. E isso fica provado pelo fato de que sua qualidade técnica jamais esteve sob escrutínio - mas sim seus quesitos físicos e questões extracampo.

Mais uma vez, voltemos dois anos e alguns meses no calendário para aquela Colômbia de Antonio Rueda, que fracassou na tentativa de classificar-se à Copa do Mundo de 2022, e a comparemos com a seleção colombiana de Lorenzo, estrelada por James. O time é outro - e os 28 jogos de invencibilidade que anteciparam a finalíssima contra a Argentina são apenas resultado do encaixe promovido pelo novo técnico, um dos responsáveis pelo ressurgimento de seu craque, que vinha em clara desaceleração pela seleção.

É justo dizer que a Colômbia não teria chegado tão longe sem seu capitão - e isso é justamente o que se espera de um grande camisa 10: elevar o patamar de suas equipes. James eleva indiscutivelmente o da Colômbia - e certamente elevará o do São Paulo, que carece de um homem na posição e certamente faria bom proveito de um especialista em bolas paradas.

Tudo isso dado que consiga manter sua referência, é claro.

O próprio Casares admite: "Passaram Dorival, Carpini e Zubeldía, e com nenhum desses técnicos ele se firmou".

De nada adianta tamanho potencial se o futebol apresentado no São Paulo sequer chega perto disso. E, novamente, voltamos às questões físicas - que, verdade seja dita, foram problema durante toda sua carreira. Em competições de tiro curto e com duas semanas se preparo, já está claro que James consegue vingar - a pergunta que fica é em temporadas de clubes, sobretudo a brasileira, com calendário apertado e recheado de competições. Em 2023, com Dorival, foi assim - algumas aparições vindo do banco ou como titular, mas algumas vezes junto a um time mais alternativo.

Então vem Carpini, que também custou a colocar o colombiano em campo após o meia retornar da pré-temporada fora de forma e precisar passar por um período de recondicionamento físico. Neste intervalo, contudo, ele acabou se envolvendo em uma polêmica de bastidor, sendo o único de todo o elenco a optar por não viajar junto à delegação para a disputa da Supercopa do Brasil, no dia 4 de feveireiro, contra o Palmeiras, em Belo Horizonte. A decisão pegou muito mal internamente, levantando a discussão sobre seu futuro nos bastidores.

James, porém, decidiu permanecer e ganhou uma 'segunda chance', mas recebeu novamente poucos minutos na 'era Zubeldía' - ele entrou em campo a seis minutos do fim do empate em 0 a 0 contra o Palmeiras, neste Brasileirão, para ser exato, antes de ser liberado para se concentrar junto à seleção da Colômbia, para a Copa América.

Perguntado, após a vitória por 1 a 0 sobre o Grêmio neste meio de semana, sobre o futuro do colombiano, Zubeldía afirmou que o assunto não lhe diz respeito e deveria ser tratado diretamente com a diretoria: "Eu gostaria que vocês falassem com o presidente, com o Rui [Costa, diretor executivo], [diretor de futebol Carlos] Belmonte, sobre todos os movimentos que estão acontecendo, porque são eles os encarregados dessa situação".

E completou: "Eu posso falar da parte futebolística - e vocês já sabem o que eu penso".

Sejamos bem claros: James Rodríguez é um craque do futebol mundial. Simples assim. Figura conhecida - e reconhecida - em todo o planeta. A grande repercussão de sua boa Copa América é só um sintoma disso.

E é claro que o São Paulo poderia muito bem aproveitar - ou começar a realmente aproveitar - das benesses de ter um ativo tão bem quisto em seu plantel. No que se refere a vendas de camisas e produtos, o aumento (ainda maior) da procura por ingressos, crescimento de redes sociais e serviços adicionais, além, claro, do interesse da mídia internacional do clube, muito pouco foi notado - e isso passa, obviamente, pelo casamento pouco produtivo dentro de campo até aqui.

Mas é inegável: o São Paulo tem uma estrela em mãos e pode aproveitá-la muito mais do que o fez até então.

Mas retomemos à questão primordial: São Paulo realmente precisa de James Rodríguez?

Foram poucas as sequências que o colombiano conseguiu manter ao longo de 2023 - já desconsiderando seu apagadíssimo 2024 -, mas, mesmo quando em condições de entrar em campo, a questão física sempre foi um incômodo.

No ano passado, com Dorival, Rodríguez foi titular em nove dos 14 jogos com o Tricolor, mas ficou de fora de toda a campanha histórica que rendeu o título da Copa do Brasil e foi principal protagonista da eliminação precoce diante da LDU - coincidentemente (ou não) comandada por Luis Zubeldía -, nas quartas de final da Copa Sul-America, no Morumbi, desperdiçando a única das dez cobranças daquela derrota por 5 a 4 nos penais. Seu tempo em campo tanto no Al Rayyan, do Qatar, quanto no Olympiacos, da Grécia, entre 2022 e 2023, porém, também já vinha sendo bem limitado. James, portanto, pouco jogou até aqui - e mesmo quando foi a campo, nada convenceu.

Ao mesmo pé, o Zubeldía encontrou uma equipe ideal no Tricolor, sobretudo uma linha de frente produtiva, estrelada por Lucas, Luciano e Calleri, contando também com o apoio de Ferreirinha, Welington Rato e Rodrigo Nestor. Ademais, agora, com as duas trágicas lesões de dois dos principais jogadores da equipe - Pablo Maia e Alisson -, James perde teoricamente ainda mais espaço. O São Paulo necessita urgentemente de jogadores físicos e de marcadores no coração do meio-campo - características não tão compatíveis com o colombiano.

James sempre parecia estar cada vez mais perto do fim da carreira no São Paulo - nos Estados Unidos, porém, ele reapresentou ao mundo sua versão mais próxima daquela que o transformou em um dos melhores meias de sua geração.

Resta saber, agora, qual delas o camisa 55 será em seu retorno ao MorumBIS.