O adeus a Toni Kroos, o "Roger Federer do futebol"

Kroos sempre foi subestimado, especialmente no Bayern de Munique, de onde saiu após discordâncias salariais em 2014. Sua última partida na Allianz Arena foi recebida com hostilidade, mas ele brilhou com um passe decisivo para Vinicius Jr.

O Manchester United quase o contratou, mas o negócio falhou com a saída de David Moyes e a chegada de Louis van Gaal, que não mostrou interesse em Kroos. No entanto, uma ligação de Carlo Ancelotti abriu as portas para sua transferência para o Real Madrid, marcando o início de um novo capítulo em sua carreira.

Kroos descreveu a mudança como transformadora tanto no aspecto profissional quanto pessoal, encerrando sua jornada no Real Madrid de forma brilhante.

No dia 1º de junho, Kroos fez sua última partida pelo Real Madrid e deu a assistência para o gol crucial de Dani Carvajal na vitória por 2 a 0 sobre o Borussia Dortmund na final da Champions League em Wembley. Foi a quinta conquista de Kroos na competição europeia com o Real e seu sexto título no geral - nenhum jogador na história alcançou mais.

Perguntado depois como o Real Madrid tinha alcançado uma era tão marcante de sucesso, Kroos simplesmente respondeu: "É uma combinação de qualidade e mentalidade." Ele poderia muito bem estar falando de si mesmo.

Não foi sempre um mar de rosas, é claro. Raramente é em se tratando de Real Madrid, e houve momentos em que ele enfrentou vaias no Santiago Bernabéu, especialmente na temporada sem troféus de 2018/19. Mas estamos falando de alguém que diz não sentir pressão, nunca fica nervoso. E por que duvidaríamos dele? A compostura de Kroos é excepcional.

Jamal Musiala ficou impressionado com a calma de Kroos com a bola, e Zinedine Zidane adorava assistir aos treinos do alemão, elogiando suas atuações impecáveis e sua elegância constante no jogo.

"Nunca o vi perder a bola. O seu jogo é sempre elegante e eficiente. Ele nunca tem um dia ruim.", disse o treinador.

Zidane também destacou que as qualidades de liderança de Kroos foram subestimadas por sua personalidade humilde e reservada.

"Toni é tranquilo, mas quando fala, todos escutam - treinadores, dirigentes, colegas", disse Zidane à Real France. "Ele tem participações cruciais em muitas discussões."

No entanto, enquanto Zidane via a "serenidade" de Kroos como uma virtude, alguns comentaristas na Alemanha viam isso como um defeito. Houve momentos, especialmente em torno da decepcionante eliminação nas semifinais da Euro 2016 com a Alemanha, em que se percebia Kroos como excessivamente controlado e cauteloso. Alguns até o chamavam pejorativamente de "Querpass Toni" ("Toni do Passe Lateral") devido aos seus passes pacientes para os lados.

Este rótulo deixava perplexo o ex-técnico do Bayern de Munique, Pep Guardiola. "Muitas vezes, quando as coisas vão mal, tendemos a culpar os jogadores que parecem mais calmos ou técnicos", observou ele. "Mas esses jogadores são os mais corajosos, os que têm mais bravura.

"Os jogadores que gritam mais são os que se escondem quando as coisas vão mal. Toni é o oposto: ele é o mais corajoso de todos nos momentos mais difíceis."

O último torneio pela sua seleção da carreira de Kroos foi um exemplo perfeito disso.

Kroos foi feito de bode expiatório na derrota da Alemanha para a Inglaterra nas oitavas de final da Euro 2020, com Uli Hoeness afirmando que o estilo de jogo de Kroos estava "ultrapassado". "Kroos não se encaixa no jogo moderno com seus passes laterais", disse o ex-presidente do Bayern ao Sport1.

"O jogo agora é jogado verticalmente. Estávamos perdendo por 1 a 0 nos últimos 15 minutos e Kroos parou de ultrapassar a linha do meio-campo. Sua maneira de jogar está completamente ultrapassada."

A lenda do Bayern, Lothar Matthaus, também criticou Kroos. "Kroos não é mais jogador a nível de seleção", disse à Kicker. "Na Euro, você viu que não se trata apenas da velocidade do jogador, mas também da velocidade da bola. Ele até faz isso bem com um ou dois toques, mas quando passa a bola, ele perde velocidade porque há pouco ganho de espaço e o ritmo diminui."

Kroos desmentiu completamente esses comentários na Euro 2024.

Após a surpreendente vitória por 2 a 0 da Suíça sobre a Itália, foi revelado que Granit Xhaka fez 25 passes que quebraram linhas adversárias. No entanto, Kroos não apenas superou esse número na fase de grupos, mas o fez em todos os três jogos da Alemanha.

Kroos foi o passador mais progressivo da Euro, quebrando recordes de distribuição de bolas. Indo para as quartas de final, ele liderava em passes bem-sucedidos para o terço final (113) e era o segundo em chances criadas, com 13 - tantas quanto Rice, Bellingham, Saka e Foden juntos.

Sua carreira pela Alemanha pode não ter terminado em conto de fadas, mas foi um retorno triunfante, levando em consideração sua decisão de sair da aposentadoria para um último torneio e seu estilo de jogo. Ele mostrou por que Xavi o nomeou herdeiro e por que Riquelme o chamou de Roger Federer do futebol. "Ele pode jogar uma partida", disse o argentino, "e nem precisar tomar banho depois".

Foi um prazer assistir Kroos jogar, e é difícil não pensar como Isco e pedir que continue. Ancelotti disse que, se ele mudar de ideia sobre se aposentar, ainda haverá espaço para ele no Real Madrid na próxima temporada.

No entanto, Kroos disse que queria "ser lembrado como o Toni Kroos de 34 anos que jogou sua melhor temporada pelo Real Madrid no final" e considera "um elogio que muitos pensem que é muito cedo".

Nesse sentido, sua aposentadoria não é prematura, é perfeita. Assim como quase todos os passes que ele já fez.