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"Técnico fantasia", polêmicas, crise, mas confiante e em alta: o curioso caso de uma contraditória Argentina

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Uma tonelada saiu das costas da Argentina. A classificação para as oitavas de final da Copa do Mundo evitou um vexame e uma marca que toda uma geração talentosa, especialmente Lionel Messi, não merecia. Além disso, deu mais confiança para um time até então inexistente e decepcionante.

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Com uma equipe muito experiente e a entrada de Éver Banega no meio-campo, o catado hermano que enfrentou Islândia e Croácia, finalmente pareceu um time contra a Nigéria. Nos primeiros 45 minutos, dominou completamente a partida e ditou o ritmo de jogo.

Marcação pressão, posse de bola, ótima troca de passes, movimentação, aproximação, organização tática, coesão e o jogo fluindo sem dificuldades e naturalmente com a habilidade, boa técnica e o talento de seus jogadores.

Lionel Messi, com um golaço, um lindo passe para Higuaín, uma cobrança de falta que parou na trave e belas jogadas, parecia ter finalmente chegado para a Copa do Mundo, tendo uma atuação em seu habitual nível absurdo no primeiro tempo.

Lionel Messi Argentina Nigeria World Cup Russi 2018 26062018Alex Livesey/Getty Images(Foto: Alex Livesey/Getty Images)

Éver Banega transformou o meio-campo e o time argentino, aproximando os setores, fazendo a transição com qualidade, armando ótimas jogadas e sendo o parceiro que Messi tanto precisava e o articulador tão necessário para a Argentina. Foi dele a assistência, em lindo lançamento, para o camisa 10 marcar.

No segundo tempo, porém, o time se desesperou após o inexistente pênalti convertido por Moses, caiu de produção e flertou com a eliminação. No entanto, na base do desespero e com muito drama, a Albiceleste buscou o avanço com o improvável herói Marcos Rojo.

A transcendental vitória hermana provocou uma catarse coletiva e deu confiança aos argentinos. O time parece ter se encontrado com as mudanças e Banega no meio-campo, Messi brilhou, a equipe venceu, teve ótima atuação no primeiro tempo, conseguiu a classificação e teve um pouco de paz depois de tantas críticas e dias conturbados.

MARCOS ROJOGetty Images

Curiosamente, porém, a Argentina vai enfrentar a França, neste sábado (30), às 11h (de Brasília), na Arena Kazan, em alta e, ao mesmo tempo, em crise. Com seu melhor time, confiante e preparada, mas também com polêmicas.

A contraditória Albiceleste, afinal, finalmente deve repetir sua escalação pela primeira vez em 15 partidas com Jorge Sampaoli. Enzo Pérez, que era dúvida por sentir dores no glúteo esquerdo e ficar de fora do penúltimo treinamento, treinou normalmente nesta sexta-feira (29) e deve jogar. O treinador testou Pavón na vaga de Higuaín, mas Pipita deve seguir como titular, com o jovem atacante do Boca Juniors continuando como opção no banco.

Com isso, os hermanos devem enfrentar os Bleus com Armani; Mercado, Otamendi, Rojo e Tagliafico; Enzo Pérez, Mascherano e Banega; Messi, Higuaín e Di María.

No entanto, ao mesmo tempo que a Argentina foi muito bem contra a Nigéria com esta equipe e é ótimo manter a escalação visando um maior e melhor entrosamento e ganhar ainda mais confiança, sigo achando que seria interessante e benéfica a entrada de Lo Celso ou Pavón no lugar de Enzo Pérez.

Giovani Lo Celso Argentina 29052018(Fotos: Getty Images)

Comentei desde antes do início da Copa que Banega deveria ser titular, pois daria outra cara ao meio-campo e faria a Argentina melhor. Como previ, quando Sampaoli finalmente o colocou no time, a Albiceleste mudou da água para o vinho.

Usar Pérez no meio-campo faz sentido pensando na marcação e em liberar Banega, mas a entrada de Lo Celso faria a Argentina fluir ainda mais e melhor na armação e transição, além de ter mais um elemento surpresa para se infiltrar e confundir a marcação adversária, e um jogador muito talentoso para se aproximar e fazer combinações com Messi, Banega, Higuaín e Di María.

Pavón, por sua vez, seria ótima opção de velocidade para quebrar as linhas rivais e dar muita dor de cabeça aos adversários na marcação, além de ser bom passador e ser ótimo garçom. Ele, aliás, é o vice-líder de assistências da Copa Libertadores, com cinco passes para gols, atrás apenas do cruzeirense Egídio (6), e tem entrado bem em todos os jogos do Mundial quando acionado.

Rojo Cristian Pavon Argentina Nigeria World Cup Russi 2018 26062018GABRIEL BOUYS/AFP/Getty Images(Foto: GABRIEL BOUYS/AFP/Getty Images)

Também é necessário utilizar Paulo Dybala mais e melhor. É incompreensível ter um atleta de tamanha qualidade no elenco e sequer colocá-lo em campo no segundo tempo. No desespero contra a Nigéria, por exemplo, o craque da Juventus assistiu Meza jogar. Dybala impõe respeito, preocupa o adversário, que precisa marcar de perto um jogador como ele, e dá muitas opções ao time, além do ganho técnico e de talento. Não faz sentido ele não ser usado.

Além disso, a Argentina precisa trabalhar melhor seu emocional, principalmente por se tratar de um time muito experiente, e não pode se desesperar ao sofrer um gol como aconteceu contra a Nigéria, por mais que a pressão e a situação fossem totalmente diferentes, assim como o peso nas costas dos jogadores. 

Afinal, ser eliminado pela França, repleta de bons jogadores, por mais que também não faça grande Copa, nas oitavas de final, é totalmente diferente de cair na primeira fase em um grupo com Islândia e Nigéria.

Antoine Griezmann Kylian Mbappe France Peru World Cup 2018Getty(Foto: Getty Images)

Ainda assim, não se pode sentir tanto um gol sofrido no início da etapa final, com tanto tempo para se jogar pela frente. A Argentina, que dominava o time africano, se perdeu em campo, passou a dar muitos espaços na defesa e a sintonia no meio-campo desapareceu, assim como as chances claras de gol no ataque. Isso contra um time mais qualificado como a França, por mais que os Bleus também não estejam brilhando, pode ser fatal. Griezmann, Mbappé e companhia não perdem os gols que os nigerianos perderam.

Outra questão, aliás, são justamente os gols perdidos e Higuaín que, contra as Super Águias, novamente perdeu um tento em momento crucial. A sorte dele é que Rojo salvou a Albiceleste nos minutos finais.

Tudo isso, porém, são "detalhes" que a Argentina tem totais condições de corrigir. O grande problema, que faz a seleção viver uma polêmica e alimenta os boatos de crise nos bastidores, é Jorge Sampaoli.

Segundo a imprensa argentina, Sampa ficou muito perto de ser demitido após a humilhante derrota para a Croácia, mas foi mantido no cargo "por conveniência".

Argentina Nigeria World Cup Russi 2018 26062018(Foto: GABRIEL BOUYS/AFP/Getty Images)

Conversei com Sergio Maffei, jornalista do Olé, um dos principais e maiores veículos da Argentina, que me disse uma frase muito interessante sobre a polêmica. Para ele, Sampaoli é um "técnico fantasia".

Maffei me garantiu que Sampa está na Albiceleste apenas para manter as aparências e evitar a crise, as polêmicas e as cobranças ainda maiores que uma demissão no meio da Copa do Mundo provocariam.

O jornalista ainda afirmou que o ambiente piorou durante a Copa e chegou ao pior momento após a derrota para a Croácia. Os motivos, além do desempenho ruim da equipe, seriam as escolhas contestáveis de Sampaoli, as várias mudanças táticas e as dúvidas do treinador.

Sampa, afinal, é inegavelmente competente e um treinador de sucesso, mas não tem feito bom trabalho na Argentina e mostra estar perdido, convocando 59 jogadores e tendo 14 escalações diferentes em 14 partidas no comando. O catado que enfrentou Islândia e Croácia eram reflexo do seu técnico perdido.

LIONEL MESSI JORGE SAMPAOLI ARGENTINAGetty Images(Foto: Getty Images)

O fato de Sampaoli perguntar Messi durante a partida contra a Nigéria se deveria colocar Kun Agüero em campo, Javier Mascherano discutir a escalação para a partida com ele publicamente na véspera do duelo decisivo e o camisa 10 sequer se despedir e olhar para a cara do treinador depois da entrevista coletiva após o triunfo épico não ajudam quem acredita que nada disso é verdade e o técnico segue sendo o comandante do vestiário argentino.

No entanto, o mesmo Messi abraçou Sampaoli após o gol de Rojo e o cumprimentou, gesto que o treinador agradeceu em sua coletiva. Nos treinos após a partida, Sampa sorriu muito, até brincou com seus jogadores e foi visto dando risadas com Leo, Di María e Mascherano. Será que os fatos citados não foram apenas conversas normais que um comandante tem com seus atletas e o ambiente não está tão ruim como dizem?

De qualquer forma, a polêmica continua e a contraditória Argentina tem um jogo decisivo pela frente. A França se classificou ao mata-mata sem problemas e sofrimento, mas está longe de encantar e também possui várias falhas. Griezmann está muito aquém do que pode, Mbappé teve alguns momentos de brilho, mas também pode render muito mais, assim como Pogba, e o meio-campo e ataque não estão bem. O único que faz uma Copa irrepreensível é N'Golo Kanté que, pra variar, está jogando demais.

Argentina Nigeria World Cup Russi 2018 26062018(Foto: GABRIEL BOUYS/AFP/Getty Images)

Coletivamente e individualmente, os Bleus podem mostrar muito mais e precisam e devem crescer.

A Argentina, por sua vez, curiosamente chega mais confiante, mas também com os vários problemas já citados, em uma possível crise e com polêmicas. Com o time rendendo bem, Messi brilhando e seus excelentes jogadores com boas atuações, além de menos pressão nas costas e em alta, deve crescer e mostrar ainda mais contra a França. Tem totais condições de vencer, mas tudo pode acontecer.

Resta ver se o time do "técnico fantasia" vai continuar crescendo e ganhando mais confiança ou decepcionar nas oitavas de final.

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