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Lucas vê futebol italiano de volta aos trilhos e sonha com Gerrard campeão inglês como treinador

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GOAL Por Bruno Andrade

"A Juventus vai ter muito mais dificuldades agora".

A frase acima é de um recém-chegado ao futebol italiano. Um reforço que, vale destacar, chegou com tudo. Depois de dez temporadas no Liverpool, Lucas Leiva desembarcou em Roma e rapidamente ajudou a Lazio a sentir novamente o sabor de um título, ao levantar em agosto a taça da Supercopa, justamente em cima da Velha Senhora.

Acostumado com os altos investimentos e a disputa acirrada na Inglaterra, o volante brasileiro reconhece que a Itália, depois de uma "caída" nos últimos anos, está voltando a caminhar no mesmo sentido, com destaque para os momentos de Napoli, Inter de Milão e, claro, do próprio time romano.

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O novo desafio do jogador revelado pelo Grêmio, que, aos 30 anos "parece mais velho do que realmente é", ainda está nos primeiros capítulos. Até por isso tem muito fresco na memória o enorme carinho recebido ao deixar o Liverpool, tendo recebido diversas homenagens de companheiros e pedidos de estátua por parte da torcida. Uma torcida, aliás, que já pode começar a esfregar as mãos para ver num futuro próximo ver o ídolo Gerrard ser campeão da Premier League como treinador.

A Lazio conquistou a Supercopa em cima da Juventus, está na quarta colocação da Série A, invicta na Liga Europa...  Isso é o "Efeito Lucas Leiva"?
[Risos] Não, não... Realmente a gente teve um bom início de temporada, começando com a Supercopa e agora com as primeiras rodadas da Série A e da Liga Europa. Ainda é muito cedo para falar qualquer coisa sobre novos títulos, fizemos apenas dez jogos até o momento, então tem muito para acontecer. Cheguei bem e me adaptei rápido, apesar de ter muito que melhorar, principalmente na questão de entrosamento e tática. Quero ser mais um operário para ajudar com que a Lazio continue crescendo de produção. Seria muito egoísmo da minha parte dizer que tudo começou a dar certo porque eu cheguei. Nada disso, pelo contrário. O time vem muito bem desde a temporada passada e, felizmente, tem mantido isso.

Mas o que você trouxe de novo? Sentiu alguma mudança?
Fui contratado por causa das minhas características de jogo, o clube estava atrás de um jogador experiente que fizesse a proteção na frente da defesa. Mas tenho muito para trabalhar, muito para melhorar...

O futebol italiano sempre foi muito forte, mas nos últimos anos caiu um pouco em relação aos outros países, como Espanha e Inglaterra. Sente que o bom momento da Itália está voltando?
Acredito que sim. O futebol italiano, aos olhos de muitos, deu uma caída depois que a Inter de Milão venceu a Liga dos Campeões [2009/10]. Muitos jogadores saíram, houve várias mudanças e, com isso, os times ficaram enfraquecidos. Percebo que as coisas estão voltando ao normal, a Inter de Milão está muito forte nessa temporada, o Milan investiu bastante, tudo isso mostra que nos próximos anos a briga por títulos vai ser forte. A Juventus e o Napoli ainda são hoje as maiores referências, a Lazio vem crescendo muito...

Faz muita falta um futebol italiano competitivo e com grandes investimentos...
É sempre bom ver vários times brigando pelo título nacional, isso faz com que o campeonato seja mais atraente, como é o caso da atual edição. Hoje são vários os times com condições de ganhar o título ou no mínimo chegar na Liga dos Campeões.

Levando em conta a sua experiência na Premier League, o que falta para o futebol italiano se aproximar do inglês?
O futebol tem várias fases, não é? E tudo depende da estratégia usada para atrair os melhores jogadores. Os times da Premier League têm grandes condições financeiras, até mesmo os times menores, o que aumenta o nível de disputa. Isso, claro, sem falar dos estádios cheios, da organização... Esses são os diferenciais da Premier League se formos compará-la aos outros campeonatos na Europa. A Itália voltou a atrair grandes jogadores, sendo que muitos deles poderiam estar jogando hoje na própria Inglaterra.

É um sinal que, enfim, podemos ter uma quebra de hegemonia da Juventus?
É difícil dizer, a Juventus segue como a principal favorita, pelo histórico, pelo elenco, mas acho que esse ano, se você parar e olhar, tem mais times para incomodar na ponta da tabela e com chance de título. O Napoli joga um belo futebol e já vem muito bem há anos, a Inter se reforçou e tem crescido, a Lazio começou bem... A Juventus vai ter muito mais dificuldades agora, com certeza.

O Napoli ultimamente tem recebido muitos elogios, dentro e fora da Itália. É tão acima da média assim?
Joguei contra o Napoli [derrota por 4 a 1, em 20 de setembro] e vi isso de perto. Tudo bem que o nosso time sofreu com algumas lesões durante a partida, mas o Napoli tem um entrosamento incrível, joga um futebol muito atraente e ofensivo.

Tem a percepção que no Brasil os torcedores acham que você tem muito mais de 30 anos? Isso porque saiu muito cedo do Grêmio para jogar no Liverpool...
[Risos] Com certeza. Depois de tanto tempo fora e por ter permanecido vários anos no mesmo clube, as pessoas têm essa ideia, muitos até acham que estou no fim de carreira. Saí muito cedo do Brasil, é normal que os torcedores percam um pouco da noção de tempo. A mudança para Lazio veio numa boa hora, com a chance de jogar num campeonato que pode agregar muito na minha careira. Estou muito feliz em Roma, que é uma grande cidade. Tudo tem sido muito positivo.

A recepção dos italianos foi melhor do que esperava?
Esperava um apoio muito grande, e tive isso. Me receberam muito bem no clube, todos dispostos a ajudar, até por isso a minha adaptação tem sido muito rápida. Tenho 30 anos, estou mais maduro, então tudo isso facilitou, diferentemente de quando cheguei em Liverpool, com 20 anos, sem muita experiência e conhecimento. A adaptação foi totalmente diferente.

Por que Liverpool é tão apaixonante? A cidade, o clube, a torcida...
É o conjunto da obra. Obviamente que o tempo não é apaixonante, o clima é bem difícil, nem os próprios ingleses gostam muito, mas a cidade é muito boa, o povo é muito aberto e até certo ponto diferente da essência da população britânica. No futebol, então, nem preciso comentar, porque de fato a torcida é sensacional, muito apaixonada pelo clube. Sinceramente, a torcida da Lazio é bem parecida com a torcida do Liverpool, vive o futebol de maneira incrível. Mas, repito, sou suspeito para falar de Liverpool, é um lugar que vou levar para o resto da vida. Sou muito grato por tudo.

A sua saída do Liverpool gerou uma grande comoção entre os torcedores, com muitos deles cobrando até mesmo uma estátua. Já cobrou também?
[Risos] Não, não acho que mereço uma estátua...

Nem sequer um busto?
Não, não... Saí do Liverpool da forma que gostaria, do jeito que sempre desejei. Tive perto de sair em outras oportunidades, mas acabou que não aconteceu. A minha relação com o Liverpool será de eterna gratidão, por tudo que o clube ofereceu e também por toda a minha entrega. Estátua ou busto, isso seria pedir demais. Tem tantos jogadores que fizeram parte da história do clube e merecem muito mais do que eu. Fiquei muito feliz com a forma que a torcida aceitou a minha saída, é sempre muito difícil o torcedor entender a saída de um jogador com identificação. Agora sou mais um torcedor do Liverpool, assim como sou torcedor do Grêmio. É muito bacana criar tamanha ligação com os clubes.

Você, poucos meses antes de deixar do Liverpool, não concordava muito com o fato de ser visto como "referência" do time. Agora, depois de tantas homenagens, pelo menos se considera ídolo?
Acho que sim. Da forma que eu saí, por tudo o que aconteceu depois, com tantas homenagens, isso mostra que... [Pausa] Pô, não sei se ídolo, é difícil falar, é muito complicado. Se você falar com qualquer torcedor do Liverpool, até vai ouvir diferentes opiniões em relação ao Lucas jogador, mas o Lucas homem vai ser sempre analisado da mesma forma, todos vão dizer que dei o meu máximo pela camisa. A imagem deixada foi muito positiva.

Teve muitas chances de sair do Liverpool?
Não saí antes pelo fato de não ter existido um acordo entre as três partes envolvidas, o Liverpool, o clube interessado e eu. Tive oportunidades de ir para Turquia, outras até mesmo para Itália, mas a minha relação com o Liverpool sempre foi muito forte, então tudo sempre foi feito em comum acordo, nunca houve briga ou impasse. Agora, com a possibilidade da Lazio, a conversa durou apenas cinco minutos. Havia chegado a minha hora de sair, foi bom para todos. O Liverpool entendeu e percebeu que eu merecia um novo desafio. 

O Gerrard não ter vencido a Premier League é uma das maiores injustiças do futebol?
É... Injustiça é uma palavra muito forte, mas realmente é uma pena muito grande ele não ter conquistado uma Premier League, por tudo o que ele representou para o torneio e para o Liverpool, além, claro, de ser um ídolo inglês e capitão da seleção. Faltou, sim, esse título para ele. O Gerrard foi um jogador extraordinário, sendo juntamente com o Kenny Dalglish o maior jogador da história do Liverpool. O título da Premier League seria um merecido presente por todo o esforço e toda a lealdade dele. Quem sabe ele não seja campeão como treinador do próprio Liverpool, a gente nunca sabe o que a vida nos reserva. Ele já é treinador das divisões de base, tenho certeza que está se preparando para um dia ser o treinador do time principal e, se tudo der certo, levantar a taça da Premier League.

Ele já te confidenciou isso? É um sonho?
Não, eu que estou pensando nisso agora, surgiu isso na minha cabeça [risos]. Às vezes a vida nos reserva coisas inacreditáveis. Em algum momento o Gerrard ainda vai levantar aquela taça, tenho certeza disso.

Por que o Liverpool é duro de roer para vender os craques? Demorou para liberar o Suárez, segurou o Philippe Coutinho...
Porque o Liverpool não é vendedor, o Liverpool é comprador. Basicamente é isso. Existem empresas que fornecem, existem empresas que compram. O Liverpool não é um time que costuma vender facilmente os seus craques. É óbvio que todo clube acaba vendendo alguns grandes jogadores, mas no Liverpool isso não é tão natural. 

Por que não conseguiu ter uma grande sequência na seleção?
É difícil dizer... A minha primeira oportunidade foi com o Dunga, era muito jovem. Era convocado com frequência, mas jogava pouco, até porque, por exemplo, tinha o Gilberto Silva na minha frente, então era normal esperar um pouco. Depois teve a época com o Mano Menezes, com quem tive uma sequência maior e joguei dois anos seguidos. Mas aí tive a lesão no joelho que me fez perder um ano todo. Retornei à seleção com o Felipão, porém acabei ficando fora da Copa do Mundo de 2014. Depois de tantas mudanças no comando da seleção e também pelo fato do meu número de jogos no Liverpool ter diminuído, as coisas ficaram ainda mais difíceis para ter um espaço outra vez. Vários foram os fatores que me levaram a não ter a sequência que esperava. O trabalho dentro do clube é o que te leva à seleção, até por isso a busca por um desafio, foi pensando nisso também que fechei com a Lazio, para jogar mais, aparecer e, quem sabe, ter uma nova oportunidade. A nova comissão técnica já mostrou que está acompanhando diversos campeonatos, como o chinês, e de olho em vários jogadores.

Te incomodava ou ainda te incomoda ficar fora da seleção?
Tive uma frustração muito grande quando fiquei fora da Copa do Mundo de 2014. Estive presente nas últimas três ou quatro convocações com o Felipão, mas acabei perdendo a penúltima por uma lesão no joelho. Perdi um jogo e acabei ficando fora da lista final. Fiquei muito frustrado na época, e depois disso fui entendendo que, quanto maior a expectativca, maior é também é a frustração. A seleção nunca deixou de ser um objetivo na minha carreira, sempre permaneceu e ainda permanece. Hoje, mais experiente, consigo lidar melhor com isso. 

Tem acompanhando com atenção o Arthur no Grêmio?
Tenho acompanhado bastante, até porque acompanho sempre o Grêmio. É um jogador que tem mostrado uma maturidade muito grande, o futuro dele com certeza vai ser jogar na Europa. Já conseguiu uma convocação à seleção principal, o que ajuda a comprovar ainda mais a qualificação dele. É um volante que impressiona, tem feito um grande trabalho.

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