Rosana Augusto seleção brasileiraGetty Images

Campeã da Champions, Rosana celebra avanços no Brasil: “Está no caminho”

Sim, o Brasil tem títulos na Uefa Champions League feminina. Rosana Augusto, na temporada 2011-12 defendia o Lyon na campanha do bicampeonato das francesas e colocou seu nome na história. A ex-jogadora, não por acaso, desenhou sua carreira para que um dia tivesse a chance de conquistar a honraria máxima para clubes europeus.

A estante de troféus da treinadora é vasta. Foram diversos títulos com clubes, grandes conquistas com a seleção brasileira e até uma rara taça do Mundial de Clubes feminino. No entanto, uma das honrarias se destaca e tem um gostinho ainda mais especial: a da Champions League feminina. Em entrevista exclusiva à GOAL, a ex-jogadora revelou o motivo da mudança para a França.

"Eu fui jogar no Lyon porque eu queria ganhar a Champions League", revelou Rosana. "E acabou dando certo. O time chegou na final, foi vencedor mais uma vez, era a segunda vez que o Lyon ganhava esse título, e eu pude participar. É um sonho realizado".

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Estar na seleta lista de brasileiras que conquistaram a Europa - composta apenas pela própria Rosana, além de Marta e Cristiane - é motivo de orgulho. "Pra mim é uma satisfação muito grande", completou a multicampeã.

E se hoje podemos ver grandes públicos nos jogos da Liga dos Campeões, Rosana garante que, guardadas as proporções, pôde vivenciar algo similar em sua época. Isso porque no jogo do título do Lyon, 50.212 estavam presentes em Munique para ver a vitória de 2 a 0 das francesas para cima do Frankfurt. O número foi um recorde até a atual edição, que viu o Barcelona colocar mais de 90 mil pessoas nas quartas e semifinais. Mas em 2012, a visão do Estádio Olímpico de Munique lotado para um jogo de futebol feminino era a realização de um sonho.

"Acho que a atmosfera foi praticamente a mesma", refletiu a ex-jogadora, que também vivenciou 70 mil pessoas presentes no Maracanã para ver a seleção brasileira feminina conquistar a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007.

Mas Rosana lembra que os grandes públicos não são exclusividade das europeias: ela também vivenciou a final dos Jogos Pan-Americanos de 2007 com 70 mil pessoas no Maracanã. Para ela, o grande responsável pelos grandes públicos na Europa é o processo de desenvolvimento pelo qual o futebol feminino tem passado. "Na Europa, já fazem um trabalho em relação à Champions League muito grande, vem em um desenvolvimento. É um crescimento constante, que é reflexo do que eles vêm produzindo ao longo dos anos", disse Rosana. "E isso é sensacional, é o futebol feminino crescendo e sendo reconhecido no mundo".

E é justamente isso que Rosana entende faltar para que o futebol feminino também alcance novos patamares no Brasil. Mesmo que ela ainda ache um caminho difícil, espera que um dia possamos ver mais estádios lotados para ver mulheres jogando.

"Acredito que o Brasil está nesse caminho. Começou a olhar o futebol feminino mais como algo em que as jogadoras podem se tornar ativos para o clube. Fazendo esse investimento para que esse sucesso ocorra no Brasil mais para frente. Mas acho que está um pouco distante ainda", avalia. O caminho? Incentivo.

"Falta ter a base para que as meninas cheguem mais bem preparadas e estruturadas para o profissional. Falta [o futebol feminino] ser fomentado nas escolas, nas aulas de educação física, e as prefeituras abordarem mais sobre a modalidade", listou. "Falta quebrar este paradigma de que futebol é pra menino. Falta os pais incentivarem as meninas a jogarem também, como fazem com os meninos, eu acho que isso é o mais importante. Eu acho que é um ciclo."

A base, ou a falta dela, é um ponto fundamental que Rosana enxerga para o futuro da seleção brasileira. A medalhista olímpica e pan-americana diz que tem uma boa perspectiva para a Amarelinha, mas pede calma, uma vez que a atual geração vive um limbo em sua preparação para o futebol. "A gente tem que ter muito cuidado e não exigir demais, porque essas meninas não tiveram nenhum tipo de acolhimento ou formação. Essa geração não teve nem a rua e nem a base, então teve que aprender tudo já no profissional, e isso implica no retardamento dos processos", explicou. "Mas a gente vê que tem jogadoras de qualidade. Com as competições acontecendo com mais frequência, eu acho que nos dá uma chance maior de desenvolver as meninas na seleção, embora não seja o cenário ideal".

O desenvolvimento tardio do futebol braisleiro também é algo que Rosana enxerga no novo desafio que ela assumiu. Depois de conquistar muita experiência dentro de campo, a partir deste ano, passou a buscar novos feitos do lado de fora, na posição de treinadora, algo para que se preparava enquanto ainda jogava.

"Tem sido uma experiência muito legal, mas é bem difícil também. É um olhar bem diferente", revelou a comandante do time feminino Red Bull Bragantino, que disputa a série A1 do Campeonato Brasileiro. "Para mim, a parte mais difícil tem a ver com eu ter alcançado um nível muito alto, então sou bem exigente. Eu sei que as atletas aqui no Brasil estão em processo de desenvolvimento. Então essa é minha busca incessante pela perfeição, apesar de achar que nunca vamos atingir".

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